“Horizonte Profundo: Desastre no Golfo” estreou nos cinemas no fim de semana, espalhando graxa mais uma vez por sobre a reputação da British Petroleum, a gigante do petróleo britânica cuja conta pelo devastador derramamento de óleo em 2010 está em 55 bilhões e dólares e aumentando.
Ao fazer isso, o filme também protesta contra o capitalismo, o eterno vilão de Hollywood. Você pode resgatar na sua memória filmes como “Cidadão Kane”, “A felicidade não se compra”, “Síndrome da China”, “Aliens”, “Wall Street”, todos os quais trazem um lado negro do mundo dos negócios.
Tome Tommy Lee Jones, em “O Fugitivo”, chamando a companhia farmacêutica de “um monstro”, com base não tanto em más ações – essas vieram depois – quanto em seus bilhões de dólares de lucro. Apesar da má reputação, os lucros de companhias abertas pagam dividendos, que vão para fundos de pensão, fundações beneficentes e aposentadorias de pessoas comuns, bem como para executivos endinheirados.
Leia também: Investigação jornalística rende grandes filmes desde 1940. Conheça 9 deles
Companhias farmacêuticas são um alvo favorito. Mas bancos e fundos de investimento estão todos na vista dos cineastas. Alguém viu “A Grande Aposta”? Esse tinha uma amálgama de tubarões dos negócios, incluindo alguns aparentemente mocinhos com consciência que saíram da crise financeira com dezenas e centenas de milhões de dólares.
“Se você vai ter um vilão, é uma boa estratégica para um roteirista fazê-lo alguém que é diferente de todo mundo. E riqueza é um grande separador.”
“Se você vai ter um vilão, é uma boa estratégica para um roteirista fazê-lo alguém que é diferente de todo mundo”, disse Michael Sugar, um produtor da Anonymous Content, uma produtora de cinema. “E riqueza é um grande separador.”
Anonymous Content foi uma das produtoras que fez “Spotlight: Segredos Revelados”, filme ganhador do Oscar de melhor filme em 2016.
Cinema irresistível
Merecidamente ou não, escândalos de negócios dão um cinema irresistível.
“Acho que às vezes a realidade do mundo dos negócios é que é muito dramático. Dá um bom filme”, disse Rachel Griffiths, sócia fundadora da firma de consultoria britânica Reputation Consultancy.
Tome as audiências realizadas no Congresso mês passado envolvendo a financeira Wells Fargo, cujo CEO, John Stumpf, foi forçado a ir diante dos congressistas para se desculpar pelas práticas bancárias inescrupulosas da companhia.
“Todos reforçam a visão de que eles estão operando com base em um conjunto de valores diferente do restante dos americanos.”
“Wells Fargo ou Deepwater Horizon, escolha um escândalo”, disse Kabrina Krebel Chang, que ministra ética na Escola de Negócios Questrom da Universidade de Boston. “Todos reforçam a visão de que eles estão operando com base em um conjunto de valores diferente do restante dos americanos. Eles são um alvo fácil. Nós amamos odiá-los.”
Alguns filmes têm uma abordagem equilibrada. “Margin Call – O Dia Antes do Fim”, de J. C. Chandor, o qual cobre 24 horas durante a crise financeira de 2008-2009, ofereceu um retrato contundente e realista de banqueiros como personagens complexos e nuançados do mundo dos negócios. Também o fez outro filme de Chandor, “O Ano Mais Violento”, que retratou de maneira empática um homem de negócios nova-iorquino sendo jogado na lama pelos seus competidores. “A Rede Social”, sobre a gênese do Facebook, foi um conto complexo sobre as dificuldades, os riscos e as horas intermináveis de trabalho envolvidos no lançamento de uma startup.
“Não acho que a maioria dos roteiristas esteja pensando: ‘como posso fazer a maior parte das pessoas de negócios ficarem uma imagem ruim, como posso apresentá-las à sua pior luz?’”, disse Sugar. “Trata-se menos de predisposição ou preconceito contra o mundo dos negócios. Trata-se mais de tentar descobrir algo que é uma vítima ou um alvo com quem o pública possa se identificar.”
Leia também: Um dos filmes mais importantes da história para os latinos
“É claro que não é justo”, disse. “Há muitas pessoas de negócios que são incrivelmente disciplinadas na sua moralidade e são filantropas.”
“O filme sobre a Deepwater Horizon é a abordagem de Hollywood a respeito de um acidente trágico e complexo. Não é um retrato fidedigno dos eventos que levaram ao acidente, da nossa equipe ou da companhia”, Geoff Morrell, o vice-presidente sênior da BP para comunicações relações exteriores nos Estados Unidos, disse em um comunicado à imprensa.
A cinedocumentarista Aviva Kempner recentemente fez um filme exaltando Julius Rosenwald, que fez da rede de varejo Sears & Roebuck a Amazon de seu tempo, fazendo milhões para si mesmo e doando milhões a outros.
“Por um lado, ele fez o negócio mais bem sucedido de seu tempo, mas também se sentiu compelido a compartilhar sua riqueza”, disse Kempner. “Os Rosenwalds dos dias atuais são Warren Buffett e Bill Gates, que recebem merecida publicidade por sua filantropia.”
A BP pode obter algum consolo com a desapontadora bilheteria de “Horizonte Profundo: Desastre no Golfo” no fim de semana de estreia na América do Norte. O filme de catástrofe faturou 20,6 milhões, e ficou atrás da última excentricidade fantasiosa de Tim Burton, “O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares”.
11 mortos
“Horizonte Profundo: Desastre no Golfo” é um filme de 156 milhões de dólares que se concentra nas horas que cercam a explosão de uma plataforma de petróleo no Golfo do México, que resultou no pior derramamento de óleo na história dos Estados Unidos. Onze trabalhadores morreram no acidente. O acidente poderia ter enterrado a BP, mas a companhia veio cambaleando desde então, vendendo bilhões em ativos para pagar pela limpeza e pelo dano que causou.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Deixe sua opinião