A diretora Anna Muylaert retorna ao Festival de Berlim com “Mãe só há uma”, selecionado para a Panorama, a mesma Mostra em que ela teve enorme sucesso na edição passada com “Que horas ela volta?” – filme que saiu daqui com o prêmio de audiência.
“Mãe só há uma” estreou com casa cheia – ingressos para a primeira sessão se esgotaram rapidamente – e, ao final, recebeu calorosos aplausos do público.
Ao apresentar o filme, Anna lembrou o prêmio de audiência que ganhou no ano passado, disse que teve dúvidas se voltaria neste ano, mas algumas coisas falaram mais alto: seu amor pela cidade, o festival, o público e os amigos que fez.
Inspirado livremente na conhecida história real de Pedrinho – criado por uma sequestradora de bebês e, quando o caso foi descoberto, reintegrado à sua mãe verdadeira – o filme segue um adolescente que vai viver com sua família biológica, após a mãe adotiva ser presa por sequestrar bebês em maternidades. A trama acompanha a transição do jovem a seu novo ambiente e a sua nova identidade.
A história tem início mostrando Pierre, um jovem de classe média como tantos outros. Um dia a polícia bate à sua porta e sua vida vira do avesso. Após um exame de DNA, aquela que ele pensava ser sua mãe é presa. Pierre se vê forçado a trocar de mãe, de casa, de escola e de nome. Em sua nova identidade, ele passa a ser chamado de Felipe. É quando seus lados mais íntimos e ocultos vêm à tona.
Matheus Nachtergaele interpreta o pai do adolescente e Dani Nefussi vive as duas mães do protagonista – o jovem ator Naomi Nero.
Os filmes de Muylaert têm sempre uma forte identificação com o público e “Mãe só há uma” não é diferente. Comparações à parte, é um filme tocante e que aborda um tema oportuno e necessário.
A diretora conversou com a Gazeta sobre o filme e a mensagem que deseja passar.
“Um dos cernes do filme é a discussão da identidade, mas ele trata também de uma questão delicada. O menino é transgênero, assunto muito presente nos dias de hoje”, diz Anna, complementando que as coisas estão muito fluidas nas novas gerações. “A questão de gênero deixou de ser tabu. Garotos com garotos, garotas com garotas, garotos que se vestem como mulheres sem afetação, garotas que se vestem como homens. Tudo parece muito normal.”
Sobre a receptividade em Berlim, depois do sucesso anterior, Muylaert lembra que são filmes muito diferentes. “Não sei realmente o que esperar, principalmente levando em conta que há agora uma expectativa muito maior. O filme tem um lado bem provocativo, mas tem também um lado delicado. Embora totalmente diferente do anterior, também é um filme que procura fortalecer a individualidade de seu protagonista, apesar de todas as adversidades”, diz a cineasta.
Quanto a prêmios, ela garante que estar aqui já é uma vitória.
“Tive que tomar coragem para voltar ao mesmo festival depois de um ano tão glorioso. Mas decidi voltar porque adoro a Berlinale e fomos muito bem tratados. Acho que agora vai haver mais expectativa e, ao mesmo tempo, sei que o novo filme vai quebrar com todas. Mas estamos também aqui para curtir o festival”, diz Anna.
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