José Mojica Marins, o ícone do cinema de horror brasileiro lembrado pela inesquecível figura do Zé do Caixão, comemora 80 anos neste domingo, 13 de março.
Em conversa por telefone com a Gazeta do Povo, o cineasta diz que não está preparando nada de especial para a data. “Estou deixando tudo a cargo dos meus filhos”, conta.
Mas ele confessa que está planejando algo maior. Mojica quer fazer um filme baseado na própria vida – as dificuldades que viveu como cineasta, os problemas com a censura, os boicote de produtores. “Acho que dá para fazer um filme legal”, diz.
A pedido da reportagem, ele listou alguns dos filmes que considera os mais importantes de sua filmografia – considerada pioneira do gênero no Brasil.
Neste telefonema, foram apenas sete. Tem mais. Se fosse citar, precisaria lembrar de títulos o suficiente para chegar a treze – número que considera cabalístico. Mojica, porém, tinha um aniversário para comemorar.
Mojica filmou a história de um estudo de LSD com quatro voluntários e suas diferentes reações à substância, que incluíam sadismo e perversão sexual. Ele conta que teve a ideia depois de testemunhar o desaparecimento de prostitutas, presas pela polícia por uso de entorpecentes.
Em plena época de recrudescimento da ditadura militar, o filme foi censurado e acabou levando Mojica para a prisão. Só foi exibido publicamente em 1983, com o título “O Ritual dos Sádicos”, rendendo prêmios de Melhor Ator para Mojica e de Melhor Roteiro para Rubens Lucchetti no Rio-Cine Festival, em 1986.
É com certeza um dos mais importantes por ser o retrato de uma época terrível em que vivemos sob o domínio do esquadrão da morte. É um documento do que passamos na época da ditadura militar.
Lançado em 1978, ganhou a Placa de Prata no Festival de Brasília no Cinema Nacional daquele ano.
Mojica aproveitou cenas cortadas de quatro de seus filmes anteriores para contar a história de Hamílton, um psiquiatra aterrorizado por delírios com o Zé do Caixão. Os amigos do médico buscam ajuda do cineasta José Mojica, que tenta convencer Hamílton de que o personagem não existe. No filme, Mojica diz que seu próximo roteiro será uma sátira do Zé do Caixão – mito que ele procura desconstruir. A metalinguagem e o aproveitamento das imagens censuradas foram um protesto, conta Mojica.
A mensagem retrata uma época política do Brasil. No filme, um [Mojica] procura desfazer o outro [Zé do Caixão], mas a mensagem é contra aqueles que me censuravam e me perseguiam no passado. É quase uma biografia.
É o filme de estreia do personagem Zé do Caixão, e também a a primeira fita de horror do cinema brasileiro. Na história, um coveiro obcecado por gerar o filho perfeito e decide matar a esposa, que é infértil, e procurar a mulher ideal.
Mojica interpretou o protagonista na falta de alguém que quisesse fazê-lo, mas levaria o personagem pelo resto da carreira.
É o filme que me marca melhor. E que marca o nascimento do terror no Brasil, levando muita gente a fazer terror. Foi feito para passar sem sessões à meia-noite, que na época não existiam, mas fez tanto sucesso que passou a ser exibido em horário comercial normal. Foi inspirado num pesadelo.
Na continuação de “À Meia-Noite Levarei Sua Alma”, o coveiro continua sua busca pela progenitora ideal para seu herdeiro, desta vez com a ajuda de um corcunda. O filme já inclui cenas coloridas na sequência em que o Zé do Caixão reencontra suas vítimas em um inferno gelado.
Usei o cinema como desabafo e me senti realmente satisfeito. Eu já estava por dentro da coisa, sem a dificuldade que foi fazer o primeiro. E o sucesso também foi muito grande.
Mojica finalizou a trilogia que começou com “À Meia-Noite Levarei Sua Alma”, em 1964. No novo filme, o Zé do Caixão – depois de décadas na cadeia – ainda não desistiu da busca pelo filho perfeito. Foi a produção mais cara do Zé do Caixão – custou cerca de R$ 1 milhão.
Foi um trabalho realmente difícil de fazer. Foi feito já na época atual, e as coisas já não eram como no passado. O público mudou muito, ficou muito mais exigente e difícil de satisfazer. Com tantas coisas fortes que vieram de fora, era preciso fazer algo à altura. E também foi difícil conseguir que os atores fizessem o tipo de coisa que eu queria fazer. Mas tive muita colaboração da imprensa e a fita acabou fazendo sucesso.
O drama de Mojica, anterior à criação do Zé do Caixão, conta a história de cinco crianças pobres que fogem de casa, liderados por Carlito (interpretado por Franquito).
O uso do jovem ator foi uma resposta de Mojica para o sucesso de Pablito Calvo, do filme “Marcelino Pão e Vinho” (1954).
Quis fazer algo que falando da vida real das pessoas. O filme fez sucesso pela cena em que me pendurei na corda [de um sino], quase caindo. Como mandei tirar a proteção que poderia me proteger de uma queda, estourou a bilheteria. A imprensa falou que eu havia arriscado minha própria vida. Valeu a pena, mas hoje já não faria mais.
O faroeste foi a estreia de Mojica no cinema profissional. Mojica assina a direção, faz uma ponta e ainda assina dez canções da trilha sonora. O filme conta a história do bandido Jaime, que se entrega à polícia por amor a uma jovem que o socorre após um tiroteio. Ao sair da prisão, precisa enfrentar um bandido que planeja matar o pai da moça. Mojica conta que trabalhou principalmente com atores novatos.
Foi uma revolução para a época, que só tinha comédias. Praticamente não havia fitas sérias. Acho que ajudei a mudar isso com filmes realmente sérios, de valor. Foi um filme que mexeu com muita gente que não se atrevia a fazer coisas fora dos padrões daquele tempo.
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