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“Cemetery of Splendour” se passa em um hospital lotado de soldados em coma | Divulgação/
“Cemetery of Splendour” se passa em um hospital lotado de soldados em coma| Foto: Divulgação/

Os filmes de Apichatpong Weerasethakul são diferentes um do outro na sua natureza, mas o viés místico e perturbador segue a mesma linha iniciada com seu intrigante primeiro longa-metragem, “Eternamente Sua”, de 2002, que o projetou internacionalmente.

Aqui no Festival de Nova York – conhecido por sua abrangência cinematográfica – o diretor tailandês tem sido presença constante, onde já esteve com “Mal dos Trópicos” (2004), “Síndromes e um Século” (2006) e o impactante “Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas” (2010).

Agora, ele está de volta com “Cemetery of Splendour”, mostrado nesta quarta-feira (16) numa concorrida sessão para a imprensa desta 53ª edição do evento.

Locado dentro de um hospital lotado de soldados em coma, o filme vai sendo gradativamente tomado pelo espectro do sonho.

Cuidados por uma bondosa voluntária (Jenjira Pongpas Widner) e uma jovem médium (Jarinpattra Rueangram), aos homens é dito que, no seu sono, eles estão numa guerra lutando em favor de reis inimigos mortos há muito tempo.

Essas misteriosas letargias possibilitam uma rica metáfora central: o sono como um refúgio seguro e até como um mecanismo escapista.

Astuto e afiado nos seus efeitos, o diretor junta fenômenos sobrenaturais com fantasmas e traumas nacionais históricos da Tailândia.

Duas vezes premiado com a Palma de Ouro (“Mal dos Trópicos” e “Tio Boonmee”), Weerasethakul diz que “Cemetery of Splendour” é um filme político porque fala da situação atual confusa e absurda do seu país, que sofreu um golpe militar no ano passado.

“A única maneira de escapar é dormindo e sonhando”, filosofa o diretor, explicando que, embora não tenha tido problemas para fazer o filme, procura ser sempre cuidadoso na abordagem de temas polêmicos.

Para filmar essa fábula espiritual ele voltou à sua cidade natal Khon Kaen, com sua selva, suas montanhas e crenças animistas.

“Foi uma experiência emocional muito triste, a cidade mudou muito. Na minha mente, só existia minha casa, um cinema e o hospital onde minha mãe trabalhava como médica. Fiquei muito arrependido de não ter ido lá antes”, confessa.

Weerasethakul reconhece que seu cinema é diferente e, muitas vezes até estranho para alguns, mas acha que a resposta a ele também é muito individual, de cada espectador.

“Cada filme que faço tem uma recepção única, mas muitas pessoas assistem e compartilham. As coisas devem seguir assim, não devo forçá-las a entender ou buscar interpretações”, ressalta.

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