O filme “Aquarius”, do pernambucano Kleber Mendonça Filho, foi ovacionado em sua primeira exibição no Brasil. Em meio a protestos de cunho político, o longa-metragem parece ter superado as expectativas do público, que participou da pré-estreia neste sábado (20), no cinema São Luiz, centro do Recife.
Uma hora antes da abertura da sala de projeção, marcada para as 19h30, já era grande a concentração de espectadores em frente ao cinema. O clima era de ansiedade e de protestos com cartazes contra o presidente interino Michel Temer (PMDB).
Além dos convidados especiais como a nadadora Joana Maranhão, atores como Humberto Carrão, Maeve Jinkings e a protagonista Sônia Braga, e toda equipe do filme, a sessão contou com um público de 500 pessoas. Todos os ingressos (R$ 10 inteira e R$ 5 meia-entrada) foram vendidos na terça-feira (16) em apenas 40 minutos.
Antes do início do filme, o jornalista e cineasta Kleber Mendonça Filho fez questão de apresentar todos que trabalharam no seu segundo longa. Cada um falou o nome e o que fez no filme. Alguns aproveitaram a oportunidade para gritar “fora Temer” e o público repetiu a frase. Outros usavam adesivos colados ao peito com a mesma inscrição.
“Fiz questão que cada um que fez o filme e pôde estar aqui esta noite se apresentasse porque o nosso país passa por um momento delicado. Há um pensamento perigoso de criminalizar os artistas. A princípio artista não é criminoso. A gente faz um trabalho super sério e super honesto”, disse Kleber Mendonça Filho, muito aplaudido pela plateia.
O cineasta evitou falar da polêmica sobre a indicação de “Aquarius” para representar o Brasil no Oscar. O filme estreia no dia 1º de setembro.
O público acompanhou atentamente ao filme e reagiu a algumas cenas com gritos e aplausos, como por exemplo, a uma tomada aérea da área portuária do Recife. A imagem do filme retirou dois espigões construídos depois de um leilão, supostamente, fraudulento vencido pela Moura Dubeux Engenharia.
A crítica do cineasta à poluição da praia de Boa Viagem, cartão postal da capital pernambucana, também não passou despercebida pelos espectadores. O público aplaudiu a cena em que Clara, personagem de Sônia Braga, mostra um esgoto à céu aberto desaguando no mar e usado como divisa entre os bairros de Boa Viagem e do Pina.
Depois de duas horas e 20 minutos de filme o público aplaudiu de pé e aos gritos de “Ocupar. Resistir”, frase do movimento Ocupe Estelita, que luta contra a especulação imobiliária em uma área privilegiada do Recife. Chamado de Novo Recife, o projeto embargado pelo Iphan é encabeçado por um consórcio de empreiteiras, sendo duas delas envolvidas na Operação Lava Jato: Moura Dubeux Engenharia e Queiroz Galvão.
História
O filme conta a história de Clara (Sônia Braga), uma escritora e jornalista aposentada, moradora do fictício edifício “Aquarius”, último de estilo antigo na beira mar do bairro de Boa Viagem, no Recife. Ela precisa lidar com as investidas de uma construtora que pretende demolir o prédio e dar lugar a um novo empreendimento.
“Aquarius” teve sua estreia mundial na França, como parte da seleção oficial competitiva do festival de Cannes e ganhou o prêmio de melhor filme no Festival de Cinema de Sydney. O longa também participou do Festival de Karlovy Vary, na República Tcheca, do Festival Internacional de Cinema da Nova Zelândia, do Festival Internacional de Cinema de Melbourne; do Festival de Sarajevo, na Bósnia, e acaba de ser selecionado para o Festival de Cinema de Nova York.
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