Superman nasceu em 1938 como um personagem um tanto ingênuo – e assim foi mantido por muito tempo, inclusive em suas encarnações para o cinema. Até recentemente, ele mantinha o bom mocismo como uma de suas características principais.
Em 2013, com o lançamento de “O Homem de Aço”, um novo Superman surgiu. Soturno e violento, pouco tinha a ver com o personagem dos filmes anteriores e dos quadrinhos. É nesse contexto que “Batman vs Superman: A Origem da Justiça” estreia nesta quinta-feira (24) no Brasil (veja horários das sessões de pré-estreia no Guia).
Zack Snyder, o diretor, insere Batman como antagonista do Homem de Aço, inconformado com a destruição provocada pelo super-herói em Metrópolis. A história, então, se propõe a discutir os limites do poder: é possível deter o indivíduo mais poderoso do planeta?
Não é a primeira vez que a conduta do principal personagem da DC Comics é contestada. Em 1986, Frank Miller, com sua graphic novel “Batman, O Cavaleiro das Trevas”, ousou ao criar um Superman aliado incondicional do então presidente Ronald Reagan.
Talvez não por acaso, no mesmo ano Alan Moore e Dave Gibbons lançaram “Watchmen”, mostrando um mundo onde os super-heróis são figuras indesejadas, proibidas pelo governo e moralmente dúbias.
“Batman vs Superman” traz esse espírito para o cinema. Superman reproduz a lenda do Anel de Giges, retratada em “A República”, de Platão. Giges, um humilde pastor, se transforma totalmente depois de encontrar um anel que lhe dá o poder da invisibilidade. Seduz a mulher do rei e o mata, para assumir o trono em seu lugar. Se Giges age assim por saber que pode sair impune, como se portaria um ser com poderes ilimitados?
Não existe, é claro, um Superman entre nós. Mas o inglês John Edward Dalberg, mais conhecido como Lorde Acton, já alertou, no século 19, sobre os perigos do poder absoluto, referindo-se a reis e outras autoridades. Foi ele o responsável por cunhar a famosa frase “O poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente”. O aforismo nasceu de uma conversa entre Acton e um bispo inglês que pedia para que reis e autoridades fossem julgados de forma diferente que o restante do povo.
Superman, como super-herói, se preocupa com as consequências de seus atos. Mas como lembra Lady Macbeth: “Por que teremos de temer quem o saiba, quando ninguém puder pedir contas ao nosso poder?”
O duradouro legado de Frank Miller
Com moral no mundo dos quadrinhos após reformular totalmente o universo do Demolidor, da Marvel, e arrasar com a graphic novel “Ronin”, seu primeiro trabalho na DC Comics, Frank Miller ganhou a chance de ouro: carta branca para criar uma história para Batman.
O que ele fez, em 1986, ecoa até os dias atuais. A história de um Batman aposentado e envelhecido que volta à ativa influenciou os últimos filmes do herói e foi responsável pela adoção do tom soturno e sério da trilogia dirigida por Christopher Nolan.
Nos quadrinhos, Miller inovou ao criar um Batman ambíguo, misto de justiceiro e herói, alguém capaz de violar direitos humanos ao caçar bandidos e ser defendido pela população, um diagnóstico que perdura até os tempos atuais.
Miller também mudou a narrativa, ao colocar a televisão como parte ativa dos eventos, uma forma inovadora de contar a história na época. Trinta anos depois, “O Cavaleiro das Trevas” continua mais atual do que nunca. (JR)
Imigração zero
- Lielson Zeni*
- Muito bem, próximo tema... secretário de relações latinas, Richard, por favor, apresente os avanços de sua pasta.
- Pois não, presidente Trump. Reparamos o muro da fronteira com o México depois da tentativa de bomba que danificou a estrutura...
- E como lidamos publicamente com o caso? Joe?
- Botamos na conta de uma facção do Estado Islâmico no México, senhor presidente. Aparentemente, funcionou.
- Segue, Richard.
- Colocamos o agente Superman pra fazer rondas aleatórias, após ele concluir a missão que o Presidente Trump tinha lhe dado, a de repatriar os imigrantes ilegais de volta a seus países. Ele ficou um tanto reticente no começo, mas fizemos ele começar pelos cabeças do Cartel de drogas mexicano e logo, logo, ele já tava levando trabalhadores informais e adolescentes “potencialmente inclinados ao crime”, de acordo com nossas previsões do Departamento de Segurança Prévia.
- Ele se recusou a cumprir as ordens?
- Não exatamente, senhor. Foi mais um “parou pra pensar sobre isso”, mas ele mesmo disse algo como “eu sigo as leis e as regras, e essa é a lei”.
- Richard, seja sincero: acha que poderemos ter um problema no futuro com o Superman?
- Senhor presidente, sim, temo que isso possa acontecer.
- Bem, Richard, conclua o Imigração Zero.
- Mas já tiramos todos os estrangeiros do país, presidente Trump.
- Richard, você está demitido! Como não percebeu que faltou um último invasor a ser posto pra fora de nosso país? Um tão estrangeiro que veio de outro planeta. Jerry, a kriptonita está pronta?