O espectador que entrar na sala durante os créditos de “Um Amor a Cada Esquina” pode pensar ter ido assistir a um filme tradicional de Woody Allen com Jennifer Aniston no papel de isca.
A abertura ao ritmo de “Cheek to Cheek” embalada por Fred Astaire evoca o mesmo tipo de aura nostálgica das comédias de Allen. A velocidade e a verve do primeiro diálogo ressurgem a cada cena mais absurda que a outra e reafirmam o parentesco. Só que se trata mais de uma herança comum do que de imitação.
O diretor de “Um Amor a Cada Esquina” é Peter Bogdanovich, hoje mais reconhecido como o dr. Elliot de “Família Soprano”. Ele foi um dos nomes centrais da chamada “nova Hollywood”, o momento dos anos 1970 em que jovens realizadores injetaram ideias e revitalizaram a encarquilhada indústria do cinema da época.
Como Scorsese, Coppola, Friedkin e o próprio Allen, Bogdanovich é um cineasta embriagado de cinema. Viu, leu e escreveu compulsivamente sobre a obra de grandes diretores. Quando passou para trás das câmeras, tanta cultura contaminou as falas, as situações e, sobretudo, o espírito de seus filmes.
Em “Um Amor a Cada Esquina”, ele evoca e homenageia o humor de duplo sentido das comédias de Ernst Lubitsch (1892-1947) e de Billy Wilder (1906-2002), cineastas de origem germânica que, a partir da década de 1920, divertiram as plateias com piadas mais subversivas do que Hollywood parecia tolerar.
No jogo do “parece, mas não é”, “Um Amor a Cada Esquina” é uma típica comédia maluca que mistura uma atriz que sobrevive como garota de programa, um juiz que desrespeita leis em vez de determinar sua execução e uma psiquiatra mais perturbada que seus pacientes.
Apesar de continuar um diretor fiel a referências e citações, Bogdanovich não faz um filme elitista e exclusivo para públicos intelectualizados. Apenas demonstra que o humor inteligente não usa só o pastelão para dar o prazer das risadas.
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