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“The Other Side of Hope” é passado em uma cidade portuária da Finlândia | Divulgação/
“The Other Side of Hope” é passado em uma cidade portuária da Finlândia| Foto: Divulgação/

Na mostra oficial da 67ª edição do Festival de Berlim, o destaque de terça-feira (14) foi “The Other Side of Hope”, de Aki Kaurismaki, mais um filme do diretor finlandês sobre os marginalizados da sociedade, como já havia mostrado na sua tocante trilogia da exclusão, iniciada com os males do desemprego (“Nuvens Passageiras”), seguida pelo drama dos moradores de rua (“O Homem sem Passado”) e encerrada com a abordagem da solidão (“Luzes do por do Sol”).

O diretor é o irmão mais velho do também cineasta Mika Kaurismaki, que vive grande parte de seu tempo no Brasil, onde já filmou “Amazonas” , “Tigrero” e “Brasileirinho”.

Mas enquanto Mika expressa sua arte em filmes extrovertidos, alegres e musicais, Aki prefere retratar as mazelas da sua Finlândia e sua casta de excluídos, que vivem à margem de uma sociedade que parece os ignorar.

“The Other Side of Hope” é o segundo capítulo de sua outra trilogia – da cidade portuária – que foi iniciada com o ótimo e premiado “O Porto” (2011).

A história, que se passa em uma pequena cidade portuária, segue as vidas de um vendedor e de um refugiado sírio que se cruzam de maneira surpreendente.

Como seus roteiros são quase sempre amargos e se constituem de diálogos muito curtos, deixando que a maior parte dos sentimentos se expresse por olhares e gestos, seus filmes precisam de uma edição mais ágil, como foi realizado na ótima montagem de Samu Heikkilä.

O elenco conta com Kati Outinen – que trabalhou em “O Porto” – e inclui também Tommi Korpela, Sakari Kuosmanen, Janne Hyytiäinen, Nuppu Loivu, Jaija Pakarinen, Ilkka Koivula, Tuomari Nurmio e Sherwan Haji.

O diretor explicou por que resolveu abordar a questão dos refugiados.

“Embora não tenha resposta ou uma proposta de solução para esse problema, considerei importante tratar do tema nos meus filmes”, ressaltou o cineasta, manifestando seu desalento com o mundo atual.

“Não tenho muita esperança em relação ao nosso planeta, principalmente quando vejo a ação de algumas pessoas que vivem nele”, desabafa Kaurismaki que, apesar do tom pessimista, já tem uma assinatura única para abordar os dramas que afligem a humanidade.

Brasileiro aplaudido

O Brasil marca expressiva presença na Mostra Generation com os longas “Mulher do Pai”, de Cristiane Oliveira; “Não Devore meu Coração”, de Felipe Bragança; e “As Duas Irenes”, de Fabio Meira, que teve sessão com casa cheia e muitos aplausos da interessada plateia, formada predominantemente por jovens.

O diretor estava acompanhado pelas atrizes Isabela Torres e Priscila Bittencourt.

O filme conta o drama de Irene, uma menina de 13 anos, de uma família tradicional do interior, quando descobre que o pai tem uma filha de outra mulher, com a mesma idade e o mesmo nome dela.

Meira não disfarça a satisfação com a seleção para Berlim. Como disse à Gazeta do Povo, ele levou muitos anos para conseguir viabilizar “As Duas Irenes”.

“O filme foi feito com baixíssimo orçamento, através principalmente do 1º Fundo de Arte e Cultura de Goiás. A seleção em Berlim é uma grande alegria, considero uma estreia com o pé direito, que de certa forma prestigia o trabalho da equipe e do elenco do filme. Por outro lado vejo como uma afirmação do cinema brasileiro e latino-americano, destacou.

Para ele, uma questão forte do filme é a identidade. Filha do meio, Irene começa a se sentir rejeitada e vai tentar descobrir quem ela é e quem quer ser.

“Ela começa a perceber como se dão as relações sociais e vai entendendo que o universo adulto é feito também de segredos e mentiras. A inspiração vem de uma história de família – meu avô tinha duas filhas com o mesmo nome – que eu descobri aos 13 anos, me perseguiu até quase os 30, quando imaginei que daria um filme”, revelou.

Além de Priscila e Isabela, o elenco conta ainda com Susana Ribeiro e Marco Ricca (como o pai) .

O diretor contou que as protagonistas foram escolhidas após extensa pesquisa de elenco em Goiás e Brasília, em testes dos quais participaram 200 meninas.

“O filme apresenta duas novas atrizes extremamente talentosas, sinto-me honrado em vê-las em uma estreia tão bonita”, diz Meira, que começou no cinema como assistente de Ruy Guerra em “O Veneno da Madrugada”, em 2004.

Sobre a reação da engajada plateia da Generation, Meira diz que tem muita curiosidade sobre esse público.

“O filme ficou pronto um pouco antes de fecharmos a cópia para Berlim, então tudo é novidade. Tenho a impressão de que vou aprender coisas novas com ‘As Duas Irenes’. Não imaginamos de início que ele pudesse se comunicar com um público tão jovem apesar do ponto de vista da protagonista de 13 anos. Estamos muito felizes em acreditar que o filme pode encontrar espectadores diferentes”, afirmou Meira, que concorre com seu filme ao Urso de Cristal.

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