“Sangue do Meu Sangue” (2015), penúltimo trabalho de Marco Bellocchio (o mais recente se chama “Doces Sonhos”), está sendo exibido na Mostra deste ano, parte da homenagem que o diretor recebe do evento. O cartaz e a vinheta da 40ª Mostra também foram feitos por Belocchio.
O diretor italiano de 76 anos aparenta ser pelo menos uma década mais jovem e veio ao Brasil para receber a homenagem da Mostra. Bellocchio falou com a imprensa na manhã desta segunda-feira (24), numa das salas do Espaço Itaú, na Rua Augusta.
O cinema de Bellocchio tem características que o aproximam do melodrama. Enredos de amor impossível, nesse contexto, são perfeitos.
Este é o caso de “Sangue...”, que fala de um padre que se apaixona por uma freira e, angustiado, comete suicídio.
“O desespero é imperdoável”, diz um dos religiosos do convento onde vive a freira e é por isso que Federico Mai - esse é o nome do padre - não pode ser enterrado em terreno sagrado. O corpo dele vai ficar entre criminosos e “jegues” - o desespero é imperdoável. Parte da história se passa no século 17, tempos religiosos obscuros, segundo argumento de Bellocchio.
O irmão de Federico, um tipo de cavaleiro (vivido pelo filho do diretor, Pier Giorgio) vai ao convento reclamar do destino do cadáver do irmão e ele também acaba envolvido com a mesma freira e descobre que, para que o irmão seja enterrado em lugar sagrado, a freira tem de admitir que foi dominada pelo diabo e arrastou o padre para o pecado.
Pelo enredo dá para sacar o melodrama. (É comum as pessoas entenderem melodramático como “dramático demais”, mas é quase isso.)
“Sangue” tem uma linguagem muito próxima da televisão (outra das influências do diretor), mas não no sentido “HBO” e sim no de telenovela mesmo.
Bellocchio diz ser um diretor político “sem sê-lo” e que o fato de narrar histórias que criticam a Igreja Católica tem a ver com sua história pessoal, com sua criação dentro de uma moral religiosa católica.
“Eu só sigo minha inspiração e isso pode ser algo arriscado. Porque depois (no resultado final, no filme), posso revelar um empenho moral. Sou até muito moralista pela minha formação”, diz Bellocchio.
“Para simplificar muito, um artista fala daquilo que viveu. Assim os temas do catolicismo emergem das histórias que eu conto. Tudo que você inventa tem algo a ver com a sua vida.”
Para ele, falando de fé, “ou você tem ou você não tem”.
Desilusões políticas
Bellocchio diz também ter sido marcado por várias desilusões, políticas e religiosas.
Sobre política, ele falou sobre a operação Mãos Limpas, fazendo um paralelo com a Lava Jato. “Eu, como cidadão, não imaginava que o poder público era tão corrupto”, diz ele em referência a uma das transformações causadas pela força-tarefa italiana muitas vezes citada como referência para explicar a brasileira Lava Jato.
Por fim, ele diz que os cidadãos ficaram desgostosos com a política. “Eles não se reconhecem mais na constituição, têm um desprezo grande pela política e desistiram de votar. Essa é uma atitude muito destrutiva e preocupante.”
Exposição homenageia Ingmar Bergman, cineasta que influenciou gerações
A exposição “Por trás da máscara - 50 anos de Persona” é um passeio fantasmagórico pelos bastidores de um dos filmes mais simbólicos e difíceis do cineasta sueco Ingmar Bergman (1918-2007).
Nos anos 1960, Bergman havia assumido a direção do teatro nacional da Suécia e estava até o pescoço com afazeres burocráticos, definhando num escritório onde passava 12 horas por dia.
Uma coisa leva a outra e Bergman teve uma infecção pulmonar que o deixou perto de uma pneumonia. No tratamento, ele acabou sofrendo uma intoxicação por penicilina (os antibióticos, em vez de ajudarem, acabaram piorando a situação). Ele foi parar no hospital.
De cama, começou a usar toda a angústia da situação em que vivia para escrever a história sobre a relação exasperante de duas mulheres.
Uma atriz (Liv Ullmann) tem uma síncope no palco e fica muda. Outra mulher (Bibi Andersson) assume os cuidados da atriz. Elas vão então viver numa espécie de delírio bucólico em que terão suas identidades misturadas, confundidas, distorcidas.
O mais legal da exposição é, exatamente, os recursos que tem para ajudar a entender o que “Persona” significa. Não só o que aparece na tela, mas também o que o filme significa para a história do cinema.
Um curta-metragem exibido dentro da exposição explica a introdução do filme, uma série de imagens abstratas e outras nem tanto em que Bergman chega a explorar o aspecto físico do celuloide. Há um fotograma que queima e várias imagens subliminares (algo que, mais tarde, influenciaria David Fincher em “Clube da Luta”).
Na entrada, cortinas e biombos de tecido reproduzem cenas do filme. É impressionante as imagens dos rostos das atrizes, um ao lado do outro, em grandes dimensões. No meio da sala, a enfermeira vivida por Bibi Andersson aparece em tamanho real, projetada em um tecido fino, cercada de meia-luz. É quase como se ela estivesse ali.
A exposição veio para o Brasil numa colaboração do Itaú Cultural com a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e com o Bergmancenter. Esta é a primeira vez que “Por trás da máscara” deixa a Ilha de Fårö.
Para cinéfilos, o que pode ser um pouco frustrante são os objetos relacionados à “Persona” que estão expostos no Itaú. Todos eles são reproduções (com exceção de uma e outra página de diário de Bergman). São reproduções os óculos de sol usados por Bibi Andersson e a máquina fotográfica de Liv Ullmann (a imagem dela mirando a câmera para a lente de Bergman e para o público no cinema ficou ainda mais simbólica depois que foi usada na capa das memórias de Liv, publicadas no Brasil pela Cosac Naify).
Você sai da exposição entendendo que “Persona” não é um filme como outros, que não dá para vê-lo da forma como a gente está acostumado a ver um filme. (Irinêo Baptista Netto)
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