O cineasta italiano Roberto Andò tem seis longas no currículo, mas apenas a comédia política “Viva a Liberdade” (2013) foi lançada no Brasil. Esta semana, os curitibanos têm a oportunidade de conhecer melhor o trabalho do diretor, com a exibição de “As Confissões” na 8 1/2 Festa do Cinema Italiano, mostra dedicada à produção recente do país.
Estrelado por Toni Servillo (de “A Grande Beleza”), “As Confissões” é uma mistura de thriller, drama psicológico e crítica política. A ação se passa em uma reunião de ministros da economia do G-8. Em meio a discussões sobre a política econômica mundial, um acontecimento trágico altera o rumo das tratativas.
Em entrevista à Gazeta do Povo, Andò garante que não fez um filme “ideológico”. Acredito que um diretor deve construir uma ponte entre imaginação e realidade, afirma o diretor.
“As Confissões” é um filme que faz severas críticas ao capitalismo. Você vê o atual modelo econômico como “o mal” ou algo parecido?
Não proponho uma visão da economia como “o mal”. Acredito que a estrutura atual da economia se apresenta mais como teologia do que uma ciência. Além disso, nossa economia está vivendo uma completa crise de seu paradigma. No meu filme, queria que as pessoas envolvidas em grandes decisões sobre o futuro do mundo, os políticos, estivessem relacionadas com o imponderável. Algo que não é reduzível a um esquema ou uma equação. “As Confissões” não é um filme ideológico, é um filme em que o público vai encontrar muitas questões sem resposta. Quando tive a primeira ideia do filme, três anos atrás, tinha medo que fosse visionário demais, mas no momento que ele foi levado a público, percebi que era completamente realista. Acredito que um diretor deve construir uma ponte entre imaginação e realidade.
Filme integra a programação da 8 ½ Festa do Cinema Italiano. Última sessão acontece terça-feira (30), 19h, no Espaço Itaú.
Como surgiu a ideia de associar drama, mistério e crítica em uma única trama?
Como tive as ideias? Isso é impossível de responder. A primeira imagem que veio a mim e o outro roteirista, Angelo Pasquini, era o rosto do monge, um homem que viveu em silêncio por muito tempo. Eu venho do sul da Itália, de Palermo, um lugar onde o silêncio está associado ao que chamamos “omertà” (o código de silêncio da máfia siciliana). Mas existe também um silêncio que não é de aquiescência, é um silêncio de resistência. O silêncio do monge interpretado por Toni Servillo é de outro tipo. No filme são apresentados dois segredos, um do poder, da exploração temerária, e outro do monge, silêncio como uma forma extrema de liberdade.
Como a crise econômica afetou o cinema italiano?
Nossa indústria cinematográfica é o espelho da situação política. Por essa razão está em uma crise perpétua. Em todo caso, nesse momento eu vejo um esforço particular para fazer uma lei mais forte que possa estimular investimentos para desenvolver uma nova temporada do cinema italiano.
Aqui no Brasil, seu filme será exibido ao lado de nomes como Giuseppe Tornatore e Paolo Sorrentino. O que o senhor pode nos dizer sobre a atual geração de cineastas do país?
Acredito que existem muitos bons diretores italianos que estão mostrando seus filmes pelo mundo. Após um longo período de crise, há um desejo de buscar uma grande audiência além das fronteiras. O interessante é que há mais chances de difundir os filmes que arriscam mais, aqueles que são mais corajosos em termos de história e linguagem, ou os documentários, um terreno em que são suspensas as diferenças entre ficção e realidade.
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