Foi com pouca surpresa que recebi a tarefa de relatar em primeira pessoa uma sessão de cinema em uma poltrona D-Box.
É um sistema vindo do Canadá que agita e vibra o assento de acordo com o filme. Duas salas do Cinemark do shopping Mueller têm um par de fileiras assim.
Eu sabia que tinha sido escalado para experimentar isso porque estava na minha cara que eu não ia gostar.
E queria provar que isso é um reducionismo. Que este convite à “aventura cinematográfica” do D-Box também é para mim (apesar de custar entre R$ 45 e R$ 55 a sessão). E que, aliás, entendo perfeitamente que a indústria esteja se esforçando para não deixar as pessoas se convencerem de que bom é ficar em casa, pagando um preço justo pela pipoca e vendo Popcorn Time.
Distração
Só que eu tenho um problema com seleção de estímulos, e isso me faz ter uma tolerância bem baixa com distrações. Eu posso perder o show se estiver muito perto daquele fã que canta todas as músicas bem alto e bem fora do tom. Ou se pegar a poltrona à frente dos bróderes que ganharam ingressos na firma e na verdade só estão a fim de falar umas besteiras antes de partirem para a Avenida Bispo Dom José.
É claro que uma pessoa assim não vai ver um filme numa boa com uma casa das máquinas trabalhando sob o assento.
Porque o D-Box é mais ou menos isso em boa parte do tempo. A vinheta de abertura do filme pisca, e você leva um soquinho. A câmera dos personagens dá tilt, e vem mais um (ou foi o cara da fileira de trás que cruzou as pernas). A personagem machuca o pé no rio, e a poltrona trepida e se inclina.
A sincronia funciona bem e os sensores têm vários recursos. Há momentos em que a vibração é usada para reforçar a sensação de tensão do personagem. É bem sofisticado. O problema é que, fora as poucas cenas que envolvem estar em um veículo em primeira pessoa , a tal da imersão não funciona bem.
A sincronia funciona bem e os sensores têm vários recursos. Há momentos em que a vibração é usada para reforçar a sensação de tensão do personagem. É bem sofisticado – mais do que o que está se passando na tela no caso de “Bruxa de Blair”, em todo caso.
O problema é que, fora as poucas cenas que envolvem estar em um veículo em primeira pessoa (que fazem o D-Box lembrar simuladores como o “Maximotion”, que o Beto Carrero World tinha nos anos 90), a tal da imersão não funciona bem, porque a interface cognitiva são os glúteos.
Isso não significa que as coisas não possam ficar emocionantes. A primeira coisa que percebi na minha cadeira foi que o controle individual que ajusta a intensidade dos movimentos estava com problemas: funcionou para colocar no máximo, mas não funcionou para diminuir. Isso foi ok no início do filme, mas se mostrou um problema nas cenas de correria e gritaria na floresta, que assisti agarrado aos braços da poltrona, com o pescoço rígido e uma lata vazia de Coca-Cola tamborilando no porta-copos.
Saí meio fatigado e sem ter entendido muita coisa da história – mas acho que “Bruxa de Blair” é assim por conta própria. Quem sabe com um filme um pouco melhor?