O ano de 2015 começou e terminou de forma terrível para os franceses. Em janeiro, extremistas armados invadiram a redação do jornal humorístico “Charlie Hebdo” e mataram 12 pessoas. Em novembro, uma série de atentados em diferentes pontos de Paris terminou com quase 140 mortes e centenas de feridos. Cenas de horror dignas de cinema. Ou nem mesmo isso, já que nem em seus filmes os cineastas franceses vislumbraram tragédias nessas proporções.
Não que o terrorismo não tenha sido um assunto exaustivamente explorado ao longo das últimas décadas. Na década de 1980, por exemplo, os terroristas eram os vilões preferidos de ídolos dos filmes de ação como Sylvester Stallone (“Rambo”), Arnold Schwarzenegger (“Comando Para Matar”) e Chuck Norris (Braddock”). Mas, enquanto os americanos resumiam a questão ao conflito mocinho e bandido, os europeus já procuravam usar o cinema para refletir sobre o problema.
Professora de cinema contemporâneo da Universidade de Central Lancashire (Inglaterra), a polonesa Ewa Mazierska estudou a representação do terrorismo em três filmes: o francês “Aqui e em Qualquer Lugar” (1976), de Jean-Luc Godard, o britânico “Quatro Leões” (2010), de Chris Morris, e o polonês “Matança Necessária” (2010), de Jerzy Skolimowski.
No artigo “Enquadrando um terrorista”, Ewa Mazierska explica que as três produções fazem representações distintas do terrorismo.
Enquanto Godard fez seu filme claramente em defesa dos guerrilheiros palestinos, os outros dois usam do humor e da abordagem intimista, explorando o ponto de vista daqueles que aderem ao combate.
“Os filmes não apenas representam terroristas, mas também se propõem a debater os modos de representá-los”, afirma a professora.
Um artigo publicado recentemente pela revista americana “Variety” lançou a pergunta: “após os ataques, os cineastas franceses e europeus estão prontos para confrontar o terrorismo?”.
Para alguns produtores, abordar o terrorismo é inevitável. A dúvida é sobre como isso será feito. “Terrorismo e radicalismo são assuntos que serão tratados porque estamos todos consternados”, diz Marianne Slot, da produtora Slot Machine.
“Devemos ver mais histórias tendo o terrorismo como pano de fundo, mas não imediatamente. Alguns sentem-se desconfortáveis porque acham que podem estar explorando o sofrimento alheio”, diz Roebrt Olla, diretor executivo da Eurimages.
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