Que Tim Burton possui talento acima da média, não há dúvidas. É daqueles cineastas que, mais que contar boas histórias, soube estabelecer uma marca. Seus melhores filmes pertencem a um gênero próprio, entre o terror, a comédia, a fantasia, situados em algum lugar entre a infância e o mundo adulto. Mas é inegável também que o diretor está longe de seus melhores dias. E não é de hoje. “O Lar das Crianças Peculiares”, filme que estreia esta semana, confirma aquilo que só seus fãs mais fervorosos talvez ainda não tenham enxergado: Tim Burton se tornou um mero diretor de filmes de sessão da tarde.
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E por “sessão da tarde” não entenda aqueles clássicos juvenis de Steven Spielberg, Robert Zemeckis e o próprio Burton entre as décadas de 1980 e 90. Estamos falando daquelas produções burocráticas, que parecem uma repetição da mesma história, com personagens semelhantes, piadas pouco inspiradas e geralmente servem como entretenimento fácil para crianças.
“O Lar das Crianças Peculiares”, ao que tudo indicava, era uma boa oportunidade para Tim Burton retomar o brilho da carreira. O filme é uma adaptação de “O Orfanato da Srta. Peregrine”, livro de Ramson Riggs que se tornou best-seller e ganhou elogios de autores consagrados da literatura infanto-juvenil. Na trama, um adolescente se insere nas aventuras contadas pelo avô, que incluem personagens fantásticos e viagens no tempo.
O garoto, Jake, é interpretado por Asa Butterfield, que viveu o jovem protagonista de “A Invenção de Hugo Cabret”. Após presenciar a morte do avô (Terence Stamp), junto de uma criatura misteriosa, segue seu conselho e vai à ilha onde ele diz ter vivido durante muito tempo. Seguindo as instruções, encontra uma fenda que leva ao orfanato da Srta. Peregrine (Eva Green), que cuida de crianças com dons especiais. O local, porém, está ameaçado e cabe a Jake ajudar a salvá-lo.
Lembra do Tim Burton cheio de ironia e personagens envolventes de “Beetlejuice” e “Batman”? Do humor ácido de “Marte Ataca”? Ou da fantasia apaixonada de “Peixe Grande”? Pois então, não há quase nada disso em “O Lar das Crianças Peculiares”. O diretor conduz a narrativa de forma burocrática e sem sobressaltos, parecendo fazer o mesmo filme que já vimos inúmeras vezes. Até os monstros têm a aparência de criações anteriores, enquanto o vilão de Samuel L. Jackson soa como uma caricatura do Beetlejuice de Michael Keaton.
O mais intrigante é observar em retrospectiva a carreira recente de Tim Burton e notar que, há pelo menos dez anos, ele parece estar no piloto automático. Do remake sem sentido de “Planeta dos Macacos” à aposta frustrada no drama em “Grandes Olhos”, passando pelos frustrantes “Alice no País das Maravilhas” e “Sombras da Noite”. A próxima tentativa é o aguardado “Beetlejuice 2”, em fase de pré-produção. Se nem com a própria criação ele conseguir se reinventar, é porque realmente há algo de muito errado no mundo fantástico de Burton. GG
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