A história de vida de Tom Ford é digna de um filme, daqueles típicos de Hollywood, que narram uma trajetória de ascensão, queda e redenção. De estilista consagrado à depressão que poderia tê-lo levado à morte, o americano se reergueu graças ao cinema. Com apenas dois filmes. E um deles, “Animais Noturnos”, que chega esta semana aos cinemas brasileiros, é nada menos que um dos melhores filmes de 2016.
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Primeiro vamos falar de Tom Ford. Em 1994, o estilista nascido no Texas se mudou para Milão, onde assumiu o posto de diretor criativo da Gucci. À beira da falência, a marca se reinventou e tornou-se gigante, enquanto o estilista se consagrou e ganhou milhões. Dez anos depois deixou a companhia, mergulhando na depressão, alcoolismo e pensamentos suicidas. Em meio ao caos, decidiu o que queria fazer da vida: ser cineasta.
Ford bem que tentou, mas não conseguiu emplacar seu projeto. Afinal, quem se arriscaria a investir em uma produção dirigida por um estilista, cuja experiência no ramo se resumia a alguns trabalhos como ator na juventude? A solução foi voltar à moda. Ford criou então sua própria marca e faturou alguns milhões, o suficiente para bancar seu primeiro filme. “Direito de Amar” (2009) calou os céticos, ganhando elogios da crítica e uma indicação ao Oscar para Colin Firth.
Sete anos depois, Ford volta a exibir seus dotes cinematográficos. E prova para quem ainda duvidava: é um cineasta extremamente talentoso. Em “Animais Noturnos”, o diretor adaptou o romance “Tony & Susan”, do nova-iorquino Austin Wright. Em linhas gerais, é a história de uma mulher, Susan (Amy Adams), que recebe uma cópia do livro escrito pelo ex-marido, Tony (Jake Gyllenhaal). Na obra, uma família é acossada por baderneiros em uma estrada. O filme entrelaça então as duas narrativas, da ficção e da realidade.
Acredite, isso é o suficiente para saber da trama sem estragar a experiência que Tom Ford proporciona ao espectador. Em entrevista ao The Telegraph, o diretor explica o que levou-o a adaptar a obra de Austin Wright. “Quando você encontra pessoas na sua vida com quem realmente importa, que você ama, você não as abandona. E esse é um conto cauteloso sobre o que acontece se você as abandonar”, diz.
Apesar das críticas elogiosas, “Direito de Amar” era um filme que se sustentava mais pela estética (o que é de se esperar de um estilista) do que pelo roteiro. Em “Animais Noturnos” Ford arrebata nas duas frentes. Junto dos planos cuidadosamente elaborados e dos arroubos visuais (a cena de abertura, por exemplo, traz um grupo de mulheres obesas dançando nuas), ele consegue conduzir a trama (ou melhor, as tramas) com uma tensão brutal, que só dissipa nos créditos finais. Há um quê de David Lynch no auge da forma.
Sem falsa modéstia, o próprio Tom Ford explica o possível dom que levou-o a fazer filmes. “Creio que sou um bom contador de histórias. Se você estiver em um jantar comigo e eu sentir que você está ficando entediado, vou apimentar a história com algo que talvez nem seja verdade, mas que vai trazer sua atenção de volta.”
Seja por isso ou não, Ford está concorrendo a dois dos três Globos de Ouro aos quais “Animais Noturnos” foi indicado: diretor e roteiro.
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