Esse vai ganhar o “Oscar de persistência”. Um filme de baixíssimo orçamento, produzido em Curitiba mas filmado, devido a contingências, no Maranhão, tratando de um tema árido como a filosofia.
O Camelo, O Leão e a Criança estreia nesta terça-feira (2) na Cinemateca e fica em cartaz até domingo (7). “O filme surgiu em conversas com amigos, mas era muita falação... queria trazer aquilo tudo para o cotidiano”, contou à Gazeta do Povo o diretor, Paulo Blitos.
A falação a que ele se refere era principalmente centrada no pensamento de Nietzsche presente em Assim Falou Zaratustra. Especialmente na tipologia tríplice que trata das Transformações do Espírito. De acordo com o texto, o homem nasce como um camelo, assumindo pesos excessivos para carregar e aceitando aquilo que o mundo lhe oferece. Quando cansa, torna-se um leão: quer fazer suas próprias escolhas e luta por elas. Só na terceira fase é que aprende a ser como a criança, que vive verdadeiramente o momento e é mesmo livre.
Programe-se
Cinemateca de Curitiba (R. Pres. Carlos Cavalcanti, 1.174 - São Francisco), (41) 3076-7202. Dias 2 a 7, às 19h40. Entrada franca. Classificação indicativa: 14 anos. 77 min. Drama.
A partir dessa ideia da vida em fases, o roteiro apresenta um professor de filosofia da ciência bastante alienado e desregrado em seus relacionamentos. Um de seus vícios, o pior, é o alcoolismo. Ele então conhece uma médica afeita ao misticismo e um ator e diretor de teatro, e por meio desses encontros e de muita conversa entra num processo de superação.
Ação
Para que o espectador não desista de acompanhar o filme-lição, o início tem mais agito, quando se situam os três personagens principais. “Na metade para a frente é que entra mais filosofia, com bastante diálogo”, conta Blitos. Um quarto personagem é considerado por ele mais “conceitual”, funcionando como Zaratustra em Nietzsche ou os “diabinhos” de Sócrates, na comparação feita pelo diretor.
Veja o trailer de O Camelo, O Leão e a Criança:
O Camelo, o Leão e a Criança - TRAILER OFICIAL from Sync Cultural on Vimeo.
Duas praças
Talvez o fato mais curioso do filme seja o de ter sido filmado em duas partes. A primeira precisou acontecer em São Luís, no Maranhão, porque a produtora com quem Blitos negociava se mudou para lá. Com tudo orçado e vinculado às leis de incentivo, ficou mais fácil ir até a montanha do que encontrar outro Maomé. Como estavam próximo das paisagens paradisíacas do Norte, entraram em cena os Lençóis Maranhenses e a localidade de Morros.
E foi assim que O Camelo, O Leão e a Criança ganhou elenco maranhense. De Curitiba, atuam apenas Mauro Zanatta (que faz o ator) e dois figurantes, que entraram numa segunda fase de filmagens, além do próprio Blitos. Os demais são Vanessa Gonsioroski, Raimundo Reis, Monah Nascimento e Tiago Schiavon. A codireção é assinada por Jul Leardini.
O longa com 77 minutos saiu pela módica quantia (em termos de produção de filme) de R$ 130 mil. Destes, R$ 80 mil foram financiados via Lei Rouanet.
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