O ator Lourinelson Vladmir protagoniza o curta-metragem.| Foto: Divulgação

A paisagem que serve de pano de fundo ao cinema brasileiro costuma se repetir: as produções estão restritas aos centros urbanos ou ao sertão nordestino. Difícil encontrar filmes que retratem cidades do interior do país. Foi essa regra que serviu de motivação ao fotógrafo paranaense Luiz Maximiano para rodar o curta-metragem “O Céu Sobre os Teus Ombros” em sua cidade natal, Assis Chateaubriand, no Oeste do estado.

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Na próxima segunda-feira (17), a produção, filmada em março deste ano, chega a Hollywood – será exibida no festival HollyShort Film Festival, um dos mais importantes do circuito de curtas nos Estados Unidos. A projeção acontece na famosa sala do Chinese Theater, construída na década de 1920 e que abrigou a cerimônia do Oscar por anos.

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“O filme tem um quê de autobiográfico”, diz Maximiano, que é radicado em São Paulo desde os 18 anos (foi estudar Publicidade e Propaganda na ESPM), e trabalha como fotógrafo freelancer para revistas como “Rolling Stone”, “Newsweek”, entre outras – também já expôs em museus como o Museu da Imagem e do Som de São Paulo, com a individual “Paquistão – Um País, Diversas Guerras”, em 2013.

A angústia do protagonista (o ator Lourinelson Vladmir, de “Curitiba Zero Grau”) tem a ver com a sensação de aprisionamento que o diretor sentia quando vivia em Assis. “Cresci na cidade sem internet. Tinha uma banca de revistas, era o único acesso ao mundo. Não tinha loja de discos, biblioteca, nada. A adolescência no interior era um tédio profundo. Se você não tiver a cabeça um pouco mais no lugar, fica preso naquele mundo. Vai para o primeiro trabalho, casa aos 18 anos, tem filhos e é isso, enquanto tem um mundo lá fora”, fala.

Mas há outras interpretações possíveis para o filme, diz, como a ansiedade sufocante da vida moderna, que nos paralisa.

O curta foi rodado sem nenhum tipo de edital ou incentivo público: ele tirou dinheiro do próprio bolso e contou com uma equipe enxuta. O roteiro foi escrito em novembro do ano passado, mas a feitura ainda parecia distante. “E aí meu pai comprou o Corcel que aparece no filme. Pedi para ele não lavar, deixar exatamente como estava, e o filme surgiu dali.”

As filmagens duraram três dias, mesmo com o atraso no cronograma – elas se iniciaram assim que Vladmir chegou em Assis – mas uma chuva inesperada acabou deixando os carros atolados na estrada de chão onde se passa o curta. “No outro dia, saiu sol e seguimos em frente”, conta o diretor.

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Cenário

O que mais surpreende no curta é o aspecto que mais interessa Maximiano: a paisagem. “Sempre achei o céu do Oeste incrível, é sempre maravilhoso. E ninguém filma lá, é muito difícil levar as produções para fora das capitais, porque encarece muito. E eu sempre achei legal mostrar a região.” O vasto milharal na beira da estrada combinou com o quê surreal da produção. “Que é o que o filme propõe, ser uma espécie de delírio.”

Depois que retornar do HollyShort Film Festival, o diretor pretende continuar trabalhando em uma nova ideia para o cinema. Novamente, com o contexto do interior.

“Já estou escrevendo o roteiro. Fala de um garoto que gosta de rock e é um ótimo músico, mas ganha a vida cantando sertanejo.”