Fernando Meirelles e o cinema nacional estão dando um tempo. Seu último filme quase 100% brasileiro foi “Cidade de Deus” (2002), indicado a quatro Oscar, entre eles o de melhor direção. Depois disso, Meirelles se internacionalizou com “O Jardineiro Fiel” (2005), e “Ensaio Sobre a Cegueira” (2008). A explicação tem a ver mais com demanda do que com inspiração. “O filme que gostaria de fazer o público não gostaria de assistir”, diz o cineasta, um dos convidados do penúltimo capítulo do Conversarte. O evento também recebe Marcos Magalhães, fundador do Anima Mundi, e acontece às 20 horas de quinta-feira (15) no Teatro Bom Jesus, em Curitiba.
Tema fundamental é o meio ambiente. A sociedade está muito alheia à essa questão e o cinema ainda não encontrou uma maneira de falar sobre isso que não seja com filmes apocalípticos.
O distanciamento de Meirelles do circuito nacional será um dos assuntos do encontro, cuja proposta é discutir a produção audiovisual contemporânea – suas linguagens e formatos – e a indústria cultural em que está inserida. Com participação da plateia, como ocorreram em outros capítulos, a expectativa é que a conversa também trate de economia, sustentabilidade e convergência entre arte e sociedade. Meirelles dá uma palhinha.
OSGEMEOS
A programação do Conversarte encerra em novembro com o encontro de OSGEMEOS e Ronaldo Fraga em uma conversa aberta sobre “Enredo Brasil: Folclore, Lendas e Cotidiano no retrato da arte”, acompanhados pela exposição “Bicicletas e Grafitti”, de Thiago Syen. O evento também irá acontecer no Teatro Bom Jesus.
“Em relação à criação, estamos num momento ascendente. A produção no Brasil é muito plural. Há dramas históricos, filmes experimentais, comédias. O problema é a distribuição, o espaço para exibição”, afirma o diretor, dono da 02 Filmes, produtor da série “Narcos”, sucesso na Netflix, e recém-contratado como consultor da Globo Filmes, no lugar de Daniel Filho. “Leio oito roteiros por mês”, avisa. Se com o cinema nacional está meio de mal, o diretor se arrisca em outras frentes. Ele foi o diretor de “Os Pescadores de Pérolas”, ópera de Georges Bizet; e se prepara para compartilhar a direção do espetáculo dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, ano que vem. “É um prazer ser iniciante aos 60 anos”, diz.
Meirelles faz um paralelo com o cenário de 20 anos atrás, quando eram lançados “seis ou sete” filmes nacionais por ano. Hoje, com leis de incentivo, o número médio é de 120. “O mercado não tem tamanho para absorver isso. Mais da metade da produção não chega aos cinemas. Acho até que não cabem dois longas brasileiros por fim de semana.”
Há outros canais de distribuição que atendem a nichos específicos, como a Netflix. A tevê a cabo também já está sendo superada. É só parte da evolução, nada vai acabar.
Um dos filmes mais comentados do país nos últimos tempos, “Que Horas Ela Volta?”, de Anna Muylaert, também deve dar prosa no encontro. “É sensacional. Tem delicadeza, inteligência, não é nada óbvio e acaba com esperança. Tem chance no Oscar [de melhor filme estrangeiro]”, aposta Meirelles.
Professor na PUC-RJ e um dos fundadores do Anima Mundi, Festival Internacional de Animação do Brasil, Marcos Magalhães assina embaixo quanto à expansão do mercado cinematográfico brasileiro. “Há novos formatos e novos realizadores. Estamos nos encontrando, também na área de animação”, diz Magalhães. É de sua lavra, por exemplo, o ratinho de massa do programa Castelo Rá-Tim-Bum, sucesso da TV Cultura na década de 1990 (Lava o queixo/ Lava a coxa/ E lava até/ Meu pé/ Meu querido pé...).
Teatro Bom Jesus (R. 24 de Maio, 135).
Dia 15 às 20h.
Ingressos esgotados.
“Foi um clássico e um marco na televisão, resultado de uma fórmula muito feliz e total liberdade de criação. O briefing era um ratinho que ensinasse coisas boas para as crianças”, lembra o cineasta.
A fatia local do Conversarte fica por conta da exposição “Na Presença”, do jornalista e cineasta Rafel Urban.
A mostra reúne dois documentários do curitibano – “Ovos de Dinossauro na Sala de Estar” e “A Que Deve a Honra da Ilustre Visita Este Simples Marquês?”, este realizado em parceria com Terence Keller.
A exposição fica em cartaz até 26 de outubro no foyer do teatro Bom Jesus.
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