William Friedkin, diretor aclamado de “O Exorcista”, diz que agora já viu um exorcismo de verdade – e o filmou.
Falando para uma plateia no Festival de Cinema de Cannes na quinta-feira (19), o cineasta de 80 anos disse que o Vaticano o convidou para filmar um exorcismo no começo de maio. A versão que ele construiu para o filme de terror sobrenatural de 1973, acrescentou Friedkin, não é tão diferente do rito autêntico que ele recentemente documentou.
“Não acho que jamais serei o mesmo depois de ter visto essa coisa assombrosa”, disse, de acordo com a Agência France-Press. “Não estou falando de alguma seita, estou falando de um exorcismo realizado pela Igreja Católica em Roma.”
Um representante do Vaticano contradisse a afirmação de que a Igreja teria convidado Friedkin, observando que não conta atualmente com um exorcista oficial. Contudo, o porta-voz disse à AFP que é possível que Friedkin tenha confundido outra iniciativa católica com o Vaticano. Provavelmente alguma congregação, movimento ou associação o convidou e ele creditou como “o Vaticano”.
Isso não é para dizer que a Igreja Católica carece de exorcistas. Em 1999, a Igreja atualizou seu manual sobre exorcismos: “Ritual de Exorcismos e Outras Súplicas”. O texto veio, talvez, atrasado – seu predecessor fora escrito em 1614.
A recente revisão enfatiza que exorcistas devem primeiro eliminar a possibilidade de que a possessão seja na verdade uma doença mental, por meio de avaliações médicas e psiquiátricas. O manual também recomenda que se evite tornar o ritual em um espetáculo, bem como a cobertura midiática. De acordo com Friedkin, “ninguém jamais fotografou” um exorcismo oficial, o que torna sua suposta documentação do evento ainda mais importante.
O “Ritual de Exorcismos”, é claro, ainda se refere a demônios e a um demônio à caça de almas. Como disse o cardeal chileno Jorge Arturo Medina Estevez em uma apresentação em 1999, traz, contudo, “linguagem mais sóbria, com menos adjetivos do que a versão anterior”, de acordo com o jornal britânico Guardian.
Não é um espetáculo
Exorcismos oficiais são poucos e espaçados. Mas a demanda por exorcismos, para que a Igreja os autorize, deu um salto na segunda metade do século passado e pegou impulso no final. Em 2004, o papa João Paulo II orientou todo bispo a ter um exorcista em sua diocese. Dez anos depois, o Vaticano reconheceu oficialmente a Associação Internacional de Exorcistas, com 250 membros. E, em 2015, o principal jornal católico dos Estados Unidos, Catholic Register, relatou que o “uma vez esquecido ofício” agora reúne 100 membros na América do Norte.
O exorcista e padre em Toronto Gary Thomas, que disse ao Register ter realizado cerca de uma dúzia de exorcismos ao longo da última década, diz que o ritual é dramático, ainda que não seja uma corrida para atender a um chamado no melhor estilo “Os Caça-Fantasmas”. “Do que você vê em um filme, parte é fidedigno, parte não é.” Mas o espetáculo não é o propósito, ele observou à revista Vice – ministrar o exorcismo é um exercício de cura.
O papa Francisco tem sido um crítico frequente e sem reservas de satanás, também alimentando o apoio a exorcismos. “O papa Francisco nunca para de falar sobre o demônio; isso é constante”, um bispo não identificado disse ao Washington Post em 2014. Críticos católicos dizem que Francisco está alimentando a superstição dentro da Igreja; outros, como Thomas, argumentam que isso é uma reação a crescentes influências maléficas. “A sociedade está se tornando rapidamente mais pagã”, o exorcista disse ao Register.
Friedkin não é católico, mas diz que acredita nos ensinamentos de Jesus. Também acredita na validade do exorcismo na Universidade de Saint Louis que serviu de base para seu filme.
“Quando comecei, pensei que estava gravando um filme de terror e então o padre, que era o presidente da Universidade de Georgetown (na cidade de Washington), me deixou ler esses diários e percebi que não era um filme de terror”, disse Friedkin, de acordo com a AFP. “Era um caso de exorcismo.”
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