Quase um século e meio se passou desde que Eça de Queiroz, um dos escritores mais importantes da língua portuguesa, escreveu aquela que seria uma de suas principais obras. Publicado em 1888, “Os Maias” conta a história de uma família de Portugal, atravessando três gerações até desembocar em um romance incestuoso. Por trás do drama familiar, uma forte crítica social em um país em crise econômica, o que mantém a atualidade da obra mesmo depois de tanto tempo.
Ciente desse potencial, o cineasta português João Botelho encarou o desafio de apresentar o clássico às novas gerações. E foi bem-sucedido. “Os Maias – Cenas da Vida Romântica” estreou nos cinemas brasileiros na última quinta-feira (12) tendo como trunfo a maior bilheteria de 2014 em terras portuguesas.
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Estilo teatral testa paciência do espectador
É preciso ter paciência para assistir a “Os Maias”
Leia a matéria completaEsta semana, Botelho esteve no Rio de Janeiro para promover o lançamento do filme. Em entrevista por telefone à Gazeta do Povo, ele disse que um dos fatores que o levaram a adaptar o livro para as telas foi justamente o paralelo com os dias atuais. “‘Os Maias’ é um retrato impiedoso de Portugal e da condição humana, da subserviência aos modos estrangeiros, em um país perto da bancarrota. É um círculo vicioso que não acaba”, afirma o diretor.
A obra acompanha a história da família Maia, tendo como foco principal o médico Carlos da Maia, que leva uma vida desregrada ao lado do amigo João da Ega. Essa rotina é quebrada quando ele conhece Maria Eduarda (interpretada pela brasileira Maria Flor), com quem viverá um romance intenso, porém, com algumas descobertas.
Atmosfera artificial
Com quase quatro décadas de carreira, Botelho não quis fazer uma adaptação moderna. Manteve os diálogos fiéis ao texto original e construiu uma atmosfera intencionalmente artificial. Toda a ação é rodada em estúdio, com cenários pintados. Uma forma não apenas de driblar a falta de recursos, mas também de enfatizar o espírito da obra de Eça de Queiroz. “A intenção é justamente mostrar que tudo o que se vê na tela é falso. A verdade é o texto de Eça de Queiroz”, argumenta.
Dessa forma o diretor também contesta aquilo que se tornou o cinema popular, cheio de efeitos especiais e ritmo frenético. “É como se eu dissesse: ‘fiquem quietos, vejam e ouçam a grandeza desse texto’”, diz Botelho. Uma consequência disso, segundo ele, foi o retorno do público adulto aos cinemas portugueses, cuja plateia tem sido predominantemente infantojuvenil.
Além de Maria Flor como uma das protagonistas, “Os Maias” tem no elenco outro brasileiro, André Gonçalves. “Queria atores que não fossem rostos conhecidos e a Maria Flor me encantou por sua delicadeza”, conta o diretor.
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