“Todas as cartas de amor são ridículas ou não seriam cartas de amor”, escreveu Fernando Pessoa pela pena de seu alter ego Álvaro de Campos.
Talvez a definição não faça justiça às centenas de cartas ornadas com rosas e pores do sol desenhados à canetinha e perfumadas com os sabonetes baratos que são remetidas todas as semanas da Rua das Palmeiras sem número, o endereço da Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara.
Trágicas e comoventes, essas cartas são o único meio de contato entre os muitos casais de mulheres livres com homens encarcerados na PCE que compõem a linha narrativa de “Cativas – Presas Pelo Coração”, da diretora Joana Nin. O documentário será lançado nesta quinta-feira (13), no Cineplus Jardim.
O filme chega ao circuito comercial 14 anos depois de ter sido idealizado por Joana e uma equipe que inclui as produtoras curitibanas Moro Filmes e Sambaqui Cultural, mais o canal pago GNT.
“É o tipo de projeto que pessoas sãs teriam abandonado. São muitos anos lutando contra muitas barreiras além daquelas que normalmente enfrentam os longas documentais”, diz Joana.
O projeto teve início em 2001, com a ideia que deu origem ao curta-metragem “Visita Íntima”, de 2004, mostrando a rotina de visitas de mulheres aos presos na PCE.
Filme estreia nesta quinta-feira (13) com sessões às 17h30 e 21h no Cineplus Jardim das Américas (João Doetzer, 555 – Jardim das Américas).
O longa-metragem consegue expandir esse argumento e retrata o cotidiano sofrido de 13 mulheres cujo “grande amor” está cumprindo pena.
Para a cineasta, ainda que o filme faça uma reflexão sobre o sistema penitenciário, ele “é basicamente sobre mulheres e a forma feminina, loucas e humanas, de amar”. “O filme mostra como elas conseguem acessar o cárcere pela via do afeto, sendo que a gente, quando olha para o cárcere, pensa em tudo menos no afeto”, diz Joana.
“Cativas” fez opções narrativas ousadas até o limite do cinema documental.
Há, por exemplo, um casamento entre um detento e uma das personagens com direito a véu, grinalda, padrinhos, brindes e bolo de noiva. Há ainda a recriação da cena em que dois presos compõem com textos e desenhos cartas como as que costumam mandar às suas parceiras todas as semanas.
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Além de “Cativas”, a distribuidora Moro Filmes lança em 2015: o novo filme de Guto Pasko (sobre o refugiado ucraniano Iván Boiko, ainda sem título), “As Fábulas Negras” e “Caçadores de Espécies e o Símbolo Secreto”.
“Essa cena é documental. Ainda que a cela tenha que ter sido recriada numa ala desativada, pedi para os presos trazerem coisas da cela para recriarem o ambiente de como poderia ter acontecido”, explica Joana.
Há ainda o registro de uma relação sexual durante uma das visitas íntimas – registrado de forma sutil e poética – que torna o filme único.
“Não sei se existe algum filme documental no mundo que apresenta uma cena de sexo no meio da cadeia”, observa Joana. “Eu ‘puxei’ 14 anos de cadeia. Fui ‘cativada’ pelo tema e não pude deixar passar, pois creio que ninguém no Brasil tenha 12 anos de pesquisa em uma mesma unidade e consiga mostrar esse universo como ele é mesmo”, diz Joana.
Assista ao trailer de “Cativas”:
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