O filme de super-herói “Deadpool”, da Marvel, certamente não está na lista de candidatos óbvios — ou não óbvios — que vêm à mente ao falar de Oscar. Foi nesse mesmo espírito que, semanas após chegar aos cinemas, o seu produtor e ator principal Ryan Reynolds lançou o que só poderia ser considerado uma campanha de brincadeira pelo prêmio (especialmente porque o filme era inelegível ao Oscar de 2016).
Ele escreveu uma carta, ao mesmo tempo fofa e sarcástica, para os críticos da Academia agradecendo o seu apoio ao filme e lhes oferecendo “passes para os bastidores do meu coração”.
Tudo isso foi visto como piada à época, por mais que fosse uma piada sincera. Afinal, a história de “Deadpool” gira em torno de um homem comum que acaba desfigurado após uma operação experimental que lhe deixa com o poder de se curar rapidamente de qualquer ferimento (como tiros à queima-roupa). Então, ele bota uma fantasia de super-herói e sai em busca de vingança.
O protagonista nesse filme metaficcional de quadrinhos é um misantropo consciente dos clichês do gênero e com uma tendência para cortar as pessoas no meio com espadas e beber qualquer coisa que caia nas suas mãos. E o mais importante é que é um filme metade de ação, metade de comédia, também muito ofensivo e irreverente – em doses agressivas, até. Não é o tipo de filme que costuma ser indicado ao Oscar.
Então, passou-se um ano.
Agora, um olhar detido sobre a paisagem geral da premiação – isto é, os outros prêmios da indústria cinematográfica anteriores ao Oscar de 2017 – sugere que é possível que “Deadpool” ganhe uma menção quando as indicações forem anunciadas em 24 de janeiro.
Sem precedentes
O filme desfrutou de um sucesso surpreendente no circuito das premiações até o momento, começando com o Globo de Ouro. Num acontecimento que a Vanity Fair disse que “nunca poderia imaginar”, ele foi indicado para melhor filme na categoria de comédia e musicais, e Reynolds recebeu também uma menção na categoria de atores de comédia e musicais – o que foi algo sem precedentes. Como apontou à época Michael Cavna, do The Washington Post:
“O filme mais recente de super-heróis a ser indicado à categoria de comédia e musicais do Globo de Ouro foi a animação ‘Os Incríveis’, da Pixar, na premiação de 2005 (se não contar ‘Birdman’, o indicado ao Globo e ganhador do Oscar de 2015 que satiriza os astros de filmes de super-herói). Mas ‘Deadpool’ pode ser considerado o primeiro filme de herói em live-action a ser indicado para essa categoria”. Menos surpreendentes, mas ainda assim significativas, foram as (incríveis) quatro menções no Critic’s Choice Awards: uma para melhor filme de ação, outra para melhor comédia e duas para melhor ator (de ação e comédia). Havia a impressão de que o filme estava ganhando momento, mas ainda assim isso não significava muita coisa. Como saiu na Vanity Fair, “a interseção entre os dois grupos de críticos, do Globo de Ouro e da Academia, é minúscula”.
Mas os críticos no Writers Guild Awards (WGA) têm uma interseção considerável com os da Academia. E, lado a lado com as figurinhas já esperadas deste ano, como “Moonlight: Sob a Luz do Luar”, “Manchester à Beira-Mar” e “La La Land – Cantando Estações”, houve uma menção a “Deadpool” (para melhor roteiro adaptado) na quarta-feira.
Regras e recordes
É claro que, como muitos apontaram, as categorias do Oscar variam muito em relação às categorias idiossincráticas do WGA.
Por exemplo, filmes com roteiros não escritos sob um contrato do WGA não podem concorrer aos seus prêmios – que é um dos motivos pelos quais os filmes de Quentin Tarantino nunca são indicados, como apontou Scott Feinberg do Hollywood Reporter. Este ano, a lista de filmes inelegíveis incluía “Zootopia”, “O Lagosta”, “Lion – uma Jornada para Casa”, “Elle”, “Toni Erdmann” e outros. O WGA também considerou “Loving” e “Moonlight”, dois fortes concorrentes ao Oscar, como roteiros originais (e ambos receberam menções), enquanto a Academia os considera roteiros adaptados.
Ainda assim, isso é o melhor que temos até agora para fazermos previsões, e é uma surpresa que um filme de ação e comédia com um senso de humor desses tenha ido tão longe. As indicações servem como mais uma medalha para prender na Lycra do uniforme de “Deadpool”. Não que ele precisasse. Desde o momento em que foi lançado, “Deadpool” arrebentou todos os recordes. Como apontou Kristen Page-Kirby, do The Washington Post, logo após o lançamento:
“Maior estreia no mês de fevereiro. Maior estreia na história da 20th Century Fox. Maior estreia do primeiro filme de um diretor. Mas o que mais está chamando a atenção de todos é que é a maior estreia de um filme censura 17 anos de todos os tempos”.
Com uma bilheteria mundial de quase US$ 800 milhões, ele conquistou o título de filme mais rentável de censura 17 anos de todos os tempos (sendo prata apenas nos Estados Unidos, onde a forte presença cristã garantiu que a categoria continua dominada por “A Paixão de Cristo”).
Mas, diferente de tantos blockbusters, o dinheiro não foi sua única recompensa. Nas entrevistas, Reynolds diz que o filme “mudou as regras do jogo”, apontando para sua mescla de humor negro, sexo e violência absurdamente sangrenta, que normalmente não se vê nos filmes da Marvel e (especialmente) da D.C. Comics que inundam os nossos cinemas.
E algumas de suas lições parecem ter ficado. O último filme do Wolverine, por exemplo, terá censura 17 anos, um fato que parece ter ficado óbvio no trailer.
Se “Deadpool” será ou não capaz de ganhar ou pelo menos ser indicado a um Oscar já nem importa mais. A essa altura, seria só a cereja do que acabou sendo um ótimo bolo para Reynolds, que lutou por uma década para poder fazer o seu projeto pessoal até que ele finalmente recebesse o sinal verde.
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