Em “O apartamento”, o fracasso do sonho americano de “A morte do caixeiro viajante” se encontra com o pesadelo iraniano da Revolução Islâmica. Na peça de Arthur Miller, escrita no fim da década de 1940, no pós-guerra, escancarou-se a prosperidade seletiva de uma sociedade em que os ricos ficavam mais ricos e os pobres... Bem, quem se importaria com um velho e humilde vendedor numa nação dourada?

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O Irã retratado por Asghar Farhadi — mesmo diretor de “A Separação”, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2012 — em seus filmes têm muito dessa decepção com aquilo que “poderíamos ter sido”. Imposições religiosas, preconceitos, machismo, hipocrisia social: está tudo lá, não escancarado para evitar problemas com uma habitual censura do governo pós-1979, mas em entrelinhas que têm tanto valor para suas histórias quanto o enredo principal.

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Duas ações estão no centro de “O apartamento”. Enquanto os protagonistas Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti), atores e casados, se preparam para encenar em Teerã uma versão persa de “A morte do caixeiro viajante”, eles também lidam com um crime.

Numa noite em que Emad demora a voltar, um homem desconhecido entra no apartamento em que o casal vive provisoriamente e agride Rana. A natureza da agressão não é exatamente esclarecida para o espectador, assim como nada fica muito claro num país em que nem todas as verdades podem ser ditas fora das sombras.

Entre os ensaios para a peça e a tentativa de se compreender o ocorrido no apartamento, Farhadi expõe as fragilidades do Irã. Seu tom é crítico, porém nunca arrogante. O diretor não se coloca à parte de sua sociedade, o ângulo de sua câmera é de dentro para dentro, apontada para o próprio umbigo. É como se seu cinema não fosse uma denúncia dos problemas iranianos, mas uma exaltação de um povo que luta dia após dia, em pequenos gestos, para enfrentá-los.