
“O que prepara para nós? Mais um filme sem esperança?”, pergunta um médico ao cineasta que sofre de um vago mal e enfrenta uma crise de inspiração enquanto organiza seu próximo trabalho.
A questão reverbera o niilismo de “A Doce Vida”, longa anterior de Fellini, em cartaz neste final de semana no Espaço Itáu (veja horários de exibição no Guia), e leva a acreditar que o protagonista de “8 ½” seja o próprio diretor em forma ficcional.
Além disso, o título “8 ½” refere-se à contagem dos filmes que Fellini havia realizado até então: o primeiro longa foi uma codireção, os seis seguintes que assinou sozinho mais os episódios de “Amores na Cidade” e de “Bocaccio 70”.
Seria fácil identificar nessas autorreferências a ponta de um iceberg autobiográfico por trás das imagens introspectivas que compõem o longa.
Em vez de escolher uma expressão que ironiza o ocaso de uma civilização, como “A Doce Vida” (1960), ou um termo de dialeto que faça coincidir história e memória, como “Amarcord” (1973), o nome “8 ½” parece reduzir a complexidade ao ponto de vista de um artista demiurgo.
O ano de sua realização, 1963, marca o apogeu do cinema de autor, quando trilogias de Antonioni e Bergman desafiavam o público com narrativas imbricadas, Godard demonstrava que o cinema pensa e Resnais suspendia a crença no tempo e no espaço.
A superioridade estética do cinema autoral impunha, junto com o estilo único, um universo de referências e obsessões. Não bastava que um filme fosse bom ou belo, era preciso também ser “bergmaniano”, “godardiano”, “glauberiano” ou “felliniano”. Por isso, é difícil ver “8 ½” hoje sem sentir o peso de sua idade.
A sobrecarga desse eu autoral impõe-se a cada cena e, por mais que a fábrica de imagens de Fellini tenha conservado parte de seu fascínio, o filme se tornou patrimônio do museu do cinema.
Mas, ao mesmo tempo que busca o excesso, Fellini se contrapõe nas falas do escritor que provocam o protagonista Guido (Marcello Mastroianni) a sair de seu eu sem fundo.
Na última cena, o cineasta, aliviado, integra-se à trupe de atores. No centro, sozinho, resta seu fantasma de criança que some ao apagar das luzes.
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