Se há uma virtude em “CinquentaTons Mais Escuros” – e é bom que se destaque isso, pois os acertos são poucos – é que a história é reconhecível para qualquer público: da turma do couro, chicote e códigos de segurança em jogos sexuais até os românticos convencionais, conhecidos como ‘vanilla’. É que, apesar da aura de mistério que o trailer indicava, o segundo filme inspirado na obra da escritora E.L. James não passa de um novelão dos mais safados (e aqui o termo não tem conotação erótica).
Em justiça ao diretor James Foley (de “House of Cards” e “O Sucesso a Qualquer Preço”), é bom que se diga que havia muito pouco a fazer a partir do material bruto deste pornô light. O romance de Anastasia Steele (Dakota Johnson) e Christian Grey (Jamie Dornan) saído dos livros já é de pouquíssima substância. Nas mãos de Niall Leonard, marido da autora, o roteiro nada fez para atenuar qualquer chavão.
Há bailes de máscara, embates femininos no banheiro,taças entornadas nos rostos das inimigas, tapas que não despenteiam cabelões mantidos a laquê. Se um bom folhetim mexicano lhe veio à mente, você está enganado. “50 Tons Mais Escuros” está mais para uma “Dallas” da vida, ou, vá lá, um “Melrose Place”. Histórias ruins que tentam, mas não conseguiram captar a graça histriônica das colegas latinas.
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Foley, que também dirigiu “50 Tons de Liberdade”, filme que fecha a trilogia e deve estrear no ano que vem, teve um pouco menos de trabalho que Sam Taylor-Johnson, diretora do primeiro. O filme tem mais ‘ação’, se é que me entendem. Brincadeiras e acessórios eróticos aparecem com mais ‘naturalidade’ no enredo. Dakota e Dornan também parecem estar mais à vontade um com o outro, mas o ator irlandês segue tão expressivo qual um cubo de gelo. Nada que atrapalhe, porém, as esperadas cenas ‘quentes’, que vêm em grande quantidade, quase para compensar o primeiro filme, que deixou muito fã desapontado com sua ‘meiguice’ – afinal, o herói da saga é um homem refinado e de gostos sadomasoquistas.
O ritmo também se assemelha mais a uma novela, o que é um problema em segurar o interesse de quem o assiste. A cada 15 minutos um conflito se ergue e é resolvido imediatamente. O passado de Grey, incluindo suas parceiras, sua família e traumas, é revelado de bandeja. O suspense que muitos aguardavam não se concretiza. Parece mesmo que a produção se apoia na ideia de que todo mundo leu os livros e está familiarizado com a história e que, por isso, não precisa ser atraído para a história.
O roteiro segue a esquizofrenia do livro. Anastasia começa o filme decidida a se manter afastada de Grey e suas preferências sadomasoquistas. Não fica claro, também, de onde saiu toda essa força. Basta um jantar, porém, e decide retomar contato. Parece confiante e segura. Mas gradualmente deixa que ele a domine fora das quatro paredes e influencie até mesmo sua vida profissional. Nada mais frustrante em tempos em que discute emancipação material e emocional entre os gêneros. Mas talvez esperar algo assim de um livro inspirado em “Crepúsculo” seja um pouco demais.
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