Um dos livros mais lidos e queridos da literatura nacional, o clássico infanto-juvenil “O Escaravelho do Diabo”, de Lúcia Machado de Almeida, ganha uma adaptação para o cinema com dois objetivos declarados.
O primeiro é trazer para o imaginário de uma nova geração de espectadores a história de suspense que marcou época no país desde que foi publicada pela primeira vez, em 1956.
A outra é usar a memória afetiva dos milhões de leitores do best-seller da Coleção Vagalume e levá-los para o cinema.
Para conseguir este resultado, o diretor Carlo Milani apostou em uma mudança no enredo original.
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No livro, o estudante de medicina Alberto Maltese tenta desvenda a morte misteriosa do irmão e descobre um serial killer que só ataca ruivos e envia um escaravelho (espécie de besouro) às vitimas, antes de eliminá-las .
No filme, Alberto é um menino de 13 anos (mais ou menos a idade com que se recomendava a leitura nas décadas de 1970 e 1980).
Para Milani, esta escolha se deu por um pouco de “feeling e um pouco de técnica”.
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Publicados pela Editora Ática a partir de1972, os 91 títulos da Coleção Vagalume da série infanto-juvenil foram porta de entrada para gerações diferentes de leitores
Leia a matéria completa“Trazendo para o ponto de vista do pré-adolescente, nós teríamos uma identificação muito maior do personagem com a história”, acredita.
Assim, quem leu o livro com 13 anos queria ser o personagem Alberto Maltese, que tinha 20 na trama. A mesma pessoa que vê o filme hoje vai reconhecer no personagem o adolescente que era.
Milani ressalta, porém, que o risco foi grande em “ tentar acertar um tom que atraísse o pré-adolescente e ao mesmo tempo mantivesse o interesse do público adulto”.
Referências a “Silêncio dos Inocentes”
O projeto de adaptação do livro as telas demorou 12 anos desde que Milani teve a ideia de filmá-lo, após ver a sua filha lendo o romance.
Assim que conseguiu o “sim” da família da escritora, Milani passou quase uma década formatando seu filme de estreia no cinema.
Filho do ator Francisco Milani, Carlo, que tem a experiência de mais de 25 anos como diretor da TV Globo (“Malhação” e a novela América), disse que precisou atenuar certos vícios que trouxe da televisão.
Ele conta que a produção apostou no filme de gênero, um suspense em que todos os aspectos técnicos respeitassem um cânone.
“Usamos sem pudor elementos como trilha-sonora incidental ou planos de câmera que buscassem contribuir com a sensação de medo”, explica.
O grande mérito da adaptação foi fazer o personagem – quase oculto no livro - crescer. Para tanto, Milani usou deliberadamente estratégias do cinema de gênero (como edição, trilha e flashbacks) e referências a filmes marcantes como “Seven” ou “O Silêncio dos Inocentes”, além da boa caraterização de Lourenço Mutarelli.
Milani também mostrou habilidade ao filmar as cenas violentas sempre em segundo plano, com algo que distraísse o olhar do espectador. Assim, conseguiu emplacar a classificação indicativa de 12 anos, que lhe permitiu jogar uma isca dupla: o público adolescente de 2016 e seus pais leitores do livro, hoje na faixa entre 30 e 50 anos.
Milani acredita que o lançamento do filme pode trazer o livro de volta à tona. E vice-versa. “Os dois juntos podem ser usados em escolas para análise comparativa de meio e linguagem ou sobre atualização audiovisual de uma obra literária”, propõe.
Elenco
Os dois nomes mais conhecidos do filme são atores com registro artístico diferente. Veterano do teatro paulistano, mas com notoriedade recente por papéis em novelas da Rede Globo, Marcos Caruso interpreta o delegado Pimentel, honesto, mas atrapalhado por uma doença degenerativa. O vilão foi criado pelo ator e escritor Lourenço Mutarelli. “Ele é um ator mais ligado ao cinema de arte então foi interessante trazer ele para uma produção mais comercial”, diz o diretor.
O protagonista é Thiago Rosseti, de 13 anos, escolhido em uma “peneira” com mais de cinquenta concorrentes.
Thiago disse que evitou o livro na hora de construir seu personagem. “Minha escola estava entre este livro e outro para cobrar um trabalho e escolheu o outro. Depois não me deixaram ler para não me influenciar, já que o roteiro é diferente”, conta.
Thiago diz que curtiu fazer as cenas de ação e perseguição, “mas que algumas cenas violentas são difíceis de fazer.”
Ator de comerciais desde os oito meses de idade, Thiago diz que tem planos de seguir a carreira de ator. “Eu tinha a experiência em publicidade, mas um filme é diferente. No final foi um prêmio para mim. Caras como o Marcos Caruso e o Lourenço são muito bons no que fazem e eu aprendi muito.”
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