O cineasta austríaco Friedrich Moser| Foto: Reprodução/Facebook

O cineasta austríaco Friedrich Moser já trabalhava em um filme sobre o mercado negro de softwares de vigilância quando a história de Edward Snowden veio a público. Ele entrou em contato com William Binney em 2013 quando ambos concordaram tornar sua história um documentário. Nessa entrevista exclusiva para a Gazeta do Povo, Moser conta como o 11 de setembro poderia ter sido evitado e o que o cidadão comum pode fazer para proteger sua privacidade:

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Há uma relação indireta entre “A Good American” e “Citizenfour”, o documentário de Laura Poitras. Quando você decidiu contar a história de William Binney isolada do “fenômeno” Edward Snowden?

Como minha formação acadêmica não é em cinema, mas em história contemporânea, eu me perguntei como diabos nós acabamos nessa situação: começando de um cenário de Guerra Fria em que essas agências de inteligência estavam espionando nossos inimigos militares até o momento em que nós, os cidadãos, nos tornamos os inimigos. Porque agora eles nos espionam. Pensei que a melhor forma de contar essa história era contando uma história pessoal e Bill Binney acabou no topo da minha lista, porque ele trabalhou para a NSA por mais de 30 anos até se tornar um delator. Eu contatei Bill em agosto de 2013 e ele imediatamente concordou em fazer um filme sobre sua vida e carreira. Eu também sou um grande fã de filmes de espionagem e não conhecia nenhum documentário sobre a vida de um espião. Então pensei: “eu posso fazer esse filme”. Oliver Stone chamou “A Good American” de um prólogo de “Snowden”. Se você assistir a “Citizenfour” ou “Snowden” logo depois de terminar meu filme você vai ver como eles combinam.

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Algumas das críticas recebidas por “A Good American” acusam o filme de tentar convencer o espectador mais do que encontrar provas do uso inapropriado do ThinThread pela NSA.

Essa crítica vem somente de jornalistas que ou não fizeram sua lição de casa ou de pessoas cujo interesse é perpetuar as mentiras do estado profundo. Há evidências materiais nesse relatório do Pentágono, que está no filme. Só que 98% dele é censurado. Entretanto, durante minha pesquisa conheci uma pessoa, um ex-assessor de segurança nacional de um ex-membro do Congresso americano, que leu o relatório inteiro. Seu nome é Patrick Eddington. Ele confirmou várias vezes que a história do filme é verdadeira e ele agora está processando o governo americano pela censura no relatório.

Você acredita pessoalmente que se a NSA tivesse concluído o desenvolvimento do ThinThread os ataques de 11 de setembro teriam sido evitados?

Não é uma questão de crença. Foi feito um teste no software no começo de 2002 baseado no que ele havia coletado na base de dados da NSA desde agosto de 2001 e ele localizou os terroristas. Então, pouco antes de 11 de setembro, a NSA já tinha a informação sobre os terroristas, mas acabara de jogar fora o único software capaz de encontrá-los. O ThinThread era capaz de encontrar os terroristas porque ele era inteiramente baseado em análise de relacionamentos. Com o ThinThread monitorando quem estava em contato com terroristas conhecidos, os primeiros planos do 11 de setembro teriam sido descobertos até fevereiro de 2001. Toda a rede poderia ter sido descoberta, um contato de cada vez. Sem terroristas, não haveria ninguém para realizar os ataques.

William Binney já declarou publicamente que a administração Obama foi pior que a de George W. Bush no que diz respeito ao tratamento de informações privadas. Em sua opinião, o que você espera da administração Trump com respeito à política de segurança nacional americana?

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Como europeu, o que espero da administração Trump é um impulso, não intencional, para uma política de segurança nacional independente na União Europeia. E eu vou contribuir pessoalmente para isso tanto quanto puder. Os americanos consertam os Estados Unidos, nós na Europa temos muito a consertar em casa.

Apesar da inegável coragem de ex-agentes como Binney e Snowden em se tornarem delatores e denunciarem publicamente as práticas indevidas e ilegais do governo, ainda parece que o cidadão comum pode fazer muito pouco para defender seu direito à privacidade.

Cidadãos comuns podem fazer muito. Primeiro: nunca vote em ninguém que apoie a vigilância de massa. Segundo: propague o uso de tecnologia segura. Use criptografia. Terceiro: propague a ideia de que há uma alternativa para a vigilância de massa. Porque a história do ThinThread está longe de terminar. Nós só estamos entrando em seu terceiro ato. Eu não posso dizer mais, mas é isso que eu posso dizer.

Você acredita que seja sua missão como cineasta ampliar o conhecimento do público sobre táticas governamentais controversas de vigilância e controle social?

Acredito que minha missão como cineasta é fazer bons filmes. Acredito que é missão de todos lutar contra os inimigos de nossas liberdades civis. Essa conquista custou aos nossos ancestrais um mar de sangue, lágrimas e sofrimento. É nosso dever manter essa liberdade viva. E lutar contra a vigilância do governo é uma parte disso.

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