Um grupo de feministas pretende realizar uma manifestação em frente à sala Pleyel, em Paris, durante a realização da cerimônia do prêmio César, o Oscar do cinema francês, dia 24 de fevereiro, em protesto à escolha do cineasta Roman Polanski para presidir a premiação. A Academia de Artes Técnicas Cinematográficas francesa anunciou na última quarta (18) que o cineasta deverá presidir a cerimônia, fazendo o discurso de abertura e encerramento da premiação.
A associação “Osez le Feminisme” (“atreva-se o feminismo”, em tradução livre) já reuniu cerca de 5 mil assinaturas para forçar a destituição de Polanski da presidência da 42ª edição do César. “Independentemente da qualidade da filmografia de Polanski, não podemos nos calar para o fato de que há 40 anos ele foge da Justiça americana”, afirmou Claire Serre Combe, porta-voz da associação.
De nacionalidade franco-polonesa, Roman Polanski foi preso nos Estados Unidos em março de 1977, aos 43 anos, por ter drogado e estuprado a adolescente Samantha Geimer, então com 13 anos, após uma sessão de fotos na casa do ator Jack Nicholson em Los Angeles. De acordo com o depoimento da vítima, Polanski abusou sexualmente dela depois de embebedá-la e sedá-la.
Preso, foi acusado por cinco crimes diferentes, incluindo estupro, uso de drogas e ato lascivo sobre uma menor de 14 anos. Declarando-se inocente dos crimes, acabou fazendo um acordo judicial para ser processado apenas por um crime – o equivalente a estupro de vulnerável, quando o ato sexual é praticado contra uma vítima incapaz de consentir.
Fugitivo da justiça
Na época Polanski ficou preso em uma penitenciária americana por 42 dias, quando foi liberado. A expectativa era que o cineasta obtivesse liberdade condicional, mas, antes de ouvir sua sentença, Polanski fugiu do país, fixando residência em Paris, na França. Desde então, tornou-se foragido dos Estados Unidos, nunca mais retornando àquele país e evitando visitar países que têm acordos de extradição com os EUA.
O processo envolvendo o crime cometido por Polanski tornou-se uma história controversa. Condenado à revelia, o cineasta buscou, ao longo dos anos, provar que houve ilegalidades cometidas por promotores e pelo juiz do caso. A maior dessas supostas ilegalidades foi objeto do documentário “Polanski: Procurado e Desejado”, de 2008, que mostra que o juiz do caso teria sido influenciado por um promotor de Los Angeles para aumentar a sentença do cineasta, o que teria motivado sua fuga.
A relação de Samantha Geimer, a vítima, com a história também mudou ao longo dos anos. Embora ela nunca tenha deixado de afirmar que foi drogada e violentada, veio a público durante o lançamento de seu livro “A Menina – Uma Vida à Sombra de Roman Polanski”, em 2013, e afirmou que Polanski foi “maltratado” pela história e que quem deveria ser investigado era o juiz do caso.
Anos antes, em 1988, Geimer processou Polanski pelo crime. O caso resultou em novo acordo, em que o cineasta pagou ao menos US$ 500 mil à vítima. Mais recentemente, Polanski e Geimer afirmaram que costumam trocar e-mails um com o outro.
Para a Justiça americana, entretanto, o caso continua aberto. Tanto que, em setembro de 2009, Polanski foi detido no aeroporto de Zurique, na Suíça, quando tentava entrar no país para receber um prêmio pelo conjunto da obra. A prisão foi resultado de um pedido das autoridades americanas para as suíças, que mantiveram o cineasta sob custódia até julho de 2010, quando a Justiça suíça negou os pedidos de extradição feitos pelos EUA. A prisão gerou uma série de reações mundo afora, de autoridades governamentais até artistas, estes manifestando apoio ao diretor de filmes como “O Bebê de Rosemary”, “Chinatown” e “O Pianista”.
Agora, o protesto organizado pela associação feminista tem como objetivo criticar o que as ativistas classificam como “tolerância social que ainda existe sobre o tema do estupro na França”. Para as manifestantes, a escolha de Polanski é um gesto “indigno frente às muitas vítimas de estupros e agressões sexuais.” Elas têm razão.
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