Três filmes brasileiros foram selecionados para serem exibidos na mostra Panorama do Festival de Berlim, realizado entre 11 e 21 de fevereiro. “Mãe só há uma”, de Anna Muylaert; “Antes o tempo não acabava”, de Fábio Baldo e Sérgio Andrade; e “Curumim”, de Marcos Prado estão entre as 51 produções de 33 países diferentes.
Embora não conceda prêmios do júri especializado, a Panorama contempla os melhores documentários e os melhores longas de ficção através de voto popular. Em 2015, cerca de 32 mil pessoas votaram e “Que horas ela volta”, de Anna, foi o grande vencedor. Como acontece há 18 edições, a honraria será anunciada no último dia da Berlinale.
O novo filme da diretora é outro drama familiar. Finalizado em apenas três diárias de filmagem, “Mãe só há uma” mostra a história de um adolescente que descobre ter sido roubado na maternidade. A trama tem no elenco Matheus Nachtergaele, Naomi Nero e Dani Nefussi. Até o fechamento desta edição, na tarde de ontem, Anna não foi encontrada para comentar a volta a Berlim.
“Antes o tempo não acabava” havia sido selecionado pelo World Cinema Fund do festival, que ajudou a viabilizar a filmagem. No longa, um jovem indígena vive o choque entre sua cultura tradicional e a vida na capital Manaus. No Facebook, Andrade escreveu, referindo-se à seleção: “O jovem Anderson começa a ganhar o mundo. Meu amor para toda a equipe maravilhosa, sem faltar ninguém, que possibilitou filmarmos um filme tão encantador em Manaus e fazê-lo chegar tão longe”.
O documentário “Curumim”, por sua vez, acompanhou os últimos momentos da vida de Marco Archer, brasileiro executado na Indonésia em janeiro de 2015 por tráfico de drogas. Marcos Prado conversou com ele horas antes da aplicação da pena capital. A agitada vida pregressa do carioca também é contada na produção.
Este ano, outros dois filmes escolhidos tratam de pena de morte: “Já, Olga Hepnarová”, dos tchecos Tomas Weinreb e Petr Kazda, e “Shepherds and Butchers”, coprodução entre África do Sul, EUA e Alemanha sobre o apartheid, do diretor Oliver Schmitz.
Produtor de “Tropa de Elite”, filme premiado em Berlim com o Urso de Ouro em 2008, Prado conta que conhecia Archer, apelidado de Curumim pelos amigos, desde a juventude no Rio. Para ele, a escolha do documentário pode levar ao público do festival alemão à discussão sobre as penas capitais no país asiático.
“O filme vai chamar atenção para esse assunto, sem dúvida. A Indonésia é um país extremamente corrupto. É uma democracia muito nova, com fascistas dentro e fora do armário. O filme ‘The act of Killing’ (de Joshua Oppenheimer) mostra bem isso. Mas, infelizmente, acho que mesmo que o filme possa causar alguma pressão internacional, as coisas não vão mudar por lá”, diz Prado.
Archer, que circulava com desenvoltura pelas praias do Havaí e pelos canais de Amsterdã, era tido como uma lenda pelos que o conheciam. O instrutor de asa delta, sempre descrito como um homem carismático e audacioso, sobreviveu a acidentes gravíssimos. Para Prado, isso o fazia alimentar uma sensação de invencibilidade.
O documentarista afirma que o filme não pretende romantizar a vida de Archer, nem tampouco transformá-lo em uma espécie de herói. A intenção de “Curumim” é mostrar, durante os 100 minutos de duração, a ascensão e queda do carioca.
“Acredito, de verdade, que as pessoas merecem uma segunda chance. E a pena de morte impede isso. Marco era um homem arrependido. A intenção do filme é humanizá-lo. Porque muita gente, até mesmo no Brasil, achava que ele deveria ser executado mesmo”, diz o diretor.
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