Há gosto para tudo. Na Alemanha, existe um presídio (de mentira) em que pessoas são torturadas e humilhadas (de verdade). É um negócio, business. Homens pagam para receber ordens de Arwed (Sr. Diretor, um sujeito vestido de militar) e Dennis (baixinho parrudo que usa uniforme de polícia). O que acontece dentro daquele espaço é o tema do documentário “Prison System 4614”, de Jan Soldat, um dos filmes mais bizarros da 4.ª edição do Festival Olhar de Cinema. Há uma nova exibição nesta sexta-feira (12), às 16h30, no Cinesystem Curitiba.
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Pois pessoas saíram da sala escura logo depois que um velhote gorducho foi alvo constante de raquetadas de, como se diz, aquela espécie de chibata de borracha outrora famosa nas mãos da Tiazinha. Há uma técnica, explicam Sr. Diretor e a própria “vítima”: é preciso bater em lugares diferentes das costas para criar um “bronzeado uniforme.”
O filme tosco tem cara de improviso. Parece um teatro feito instantaneamente e sem muito critério – no começo, quando um sujeito de sunga, algemado, é “afogado” para contar algum segredo de mentira, duvidamos do que, de fato, estamos assistindo.
Mas quando há entrevistas com os que se dispõem a passar por tais experiências, rimos às vezes, e pensamos em como o ser humano é uma espécie realmente inusitada. Numa outra cena, um rapaz se excita ao ser imobilizado completamente em uma cama. Causa surpresa a desenvoltura dos “atores” responsáveis por conduzir aquela encenação, sempre prontos a criar alguma história fictícia – ou a eles mesmos aproveitarem o tempo de folga e engatarem uns beijinhos serelepes.
Um dos momentos mais “interessantes” é quando um homem, que deve bater os 70 anos, chega até a prisão, querendo experimentar aquilo tudo. Ele apanha de chibata em glúteos desnudos, toma choque no pênis ereto e aí desiste. “Isso não é para o senhor”, diz Dennis.
Prison System 4614 desloca momentaneamente nossa atenção para um tipo de fetiche sexual velado, que acontece entre quatro paredes, na internet e na vida, enfim. O choque principal (grande trunfo do documentário) talvez seja o salto quântico que existe entre a intimidade reprimida e a exibição pública, num cinema em que dividem poltronas meninas recatadas e senhoras de coque.
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