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Produção lembra caso de ativistas presos após tentar levar 103 crianças do Chade para a Europa | Vicent Lindon/Divulgação
Produção lembra caso de ativistas presos após tentar levar 103 crianças do Chade para a Europa| Foto: Vicent Lindon/Divulgação

O título “Os Cavaleiros Brancos” evoca nobreza e pureza, um ideal medieval de cruzados com a missão de resgatar os desvalidos da barbárie. É, porém, o século 21, e o diretor belga Joachim Lafosse aborda o desafio humanitário sem temer as contradições.

O filme se inspira no escândalo da Arca de Zoé, ONG que prestava ajuda humanitária no Chade aos “órfãos de Darfur”, crianças vítimas da guerra civil no vizinho Sudão. Combinada com atuação local, a organização intermediava a adoção ilegal de órfãos por famílias europeias, com o objetivo de salvá-las do desastre e devolvê-las à “segurança” da “civilização”.

Ao tentar embarcar 103 crianças num voo fretado, os ativistas foram presos. Seis franceses foram julgados e condenados em 2007. No ano seguinte, a pena dos europeus e de um chadiano foi perdoada pelo presidente do Chade. Só um intermediário sudanês continuou preso.

Dos fatos à ficção, o filme muda os nomes e não identifica o país, o que tem a vantagem de a trama não parecer um caso isolado. A ONG ficcional, Move for Kids, age da mesma forma, movida pela boa intenção de salvar crianças.

Qualquer um de nós é capaz de ter uma reação humanitária ao ver crianças abandonadas ou vítimas indefesas no meio de uma guerra. Não é essa reação, natural e benévola, que o filme questiona.

Lafosse aborda o idealismo misturado com a culpa pelo passado colonialista, que leva seus cavaleiros brancos, ou seja, europeus civilizados a supor que têm um papel de deuses nas mais desgraçadas tragédias contemporâneas.

O ator Vincent Lindon, conhecido pela face de homem impávido em filmes engajados, tem sua imagem distorcida, mas sem nunca deixar de parecer heroico.

Meios

Se a ética de salvar vítimas não tem nada de questionável, o filme aborda os meios e, sobretudo, examina o sentido da intervenção.

Não há a intenção exclusiva de denunciar, como ocorre nos filmes políticos que se apoiam na mensagem e dependem da indignação para conquistar o público. O que Lafosse busca é menos fácil de obter: é registrar como o elemento externo se instala nessa realidade, como interfere numa ordem social que ele considera injusta e que, crê, precisa ser ajustada.

Nesse balaio, o filme não joga apenas com os bem-intencionados ativistas, mas também com a controversa ação militar de forças internacionais e com o jornalismo à caça de histórias humanas.

No fundo, trata-se de mostrar como o colonialismo muda de nome e de vocação sem mudar de sentido.

Confira o trailer:

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