Miguel Faria Jr. ao lado de Chico Buarque: amigos de longa data| Foto: Divulgação/

No palco, montado especialmente para as filmagens, a banda começa a tocar. Sorridente e vestindo um paletó vermelho, surge Chico Buarque, que começa a cantar os versos de “Sinhá”. Ainda que a canção, de 2011, não seja das mais conhecidas, esses poucos minutos que abrem o documentário “Chico: Artista Brasileiro” são suficientes para dimensionar a grandiosidade de seu protagonista.

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Chico ganhou a antipatia de muita gente por seu posicionamento político, assumidamente de esquerda, mas seu talento como intérprete e compositor é inquestionável. É esse o foco do filme dirigido por Miguel Faria Jr. Amigo de longa data, ele faz um retrato amistoso do cantor, muito mais em tom de homenagem que de biografia.

Quando lançou o filme no Festival do Rio, em outubro, o diretor não escondeu que sua intenção era enfocar o artista, não a figura pública. É essa abordagem um tanto “chapa branca” que acaba por desperdiçar parte do potencial que teria o documentário, feito sob medida para os fãs.

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Não que seja um filme ruim. Certamente a amizade entre diretor e protagonista foi fundamental para a participação de Chico, que é avesso a entrevistas e aparições públicas. O compositor abre as portas de casa e fala sobre muita coisa: carreira artística, processo de criação, família, envolvimento com a política e futebol. Canta com os netos, ri das próprias histórias, revela-se um solitário feliz.

A um rico material de arquivo somam-se poucos depoimentos complementares. Estão lá grandes amigos como Hugo Carvana, Edu Lobo e Ruy Guerra, mas quase ninguém da família. Todos elogios, sem muito espaço para polêmicas, rusgas ou ressentimentos.

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O que dá um pouco de molho à narrativa é a história sobre o irmão que Chico não conheceu, cuja descoberta serviu de mote para o romance “O Irmão Alemão”, lançado no ano passado.

O formato adotado por Miguel Faria também não ajuda a tornar “Chico: Artista Brasileiro” um documentário diferenciado. Números musicais de artistas como Ney Matogrosso, Carminho, Péricles e Milton Nascimento se alternam entre os depoimentos, como em um especial televisivo de fim de ano. Para quem gosta de Chico, o filme é um prato cheio. Para quem busca um pouco mais de conteúdo, fica a sensação de que faltou aquele algo a mais.