Um garoto que não aparenta ter mais que dez anos de idade usa as pequenas mãos infantis para retirar as pedras em volta de uma mina terrestre. Enquanto escava, não para de rezar para Alá o proteger e não deixar o artefato explodir.
The Land of Enlightened é repleto de momentos incríveis, mesmo tratando de situações vulgares. Um desses momentos é quando foca a atenção nos garotos que trabalham nas minas de lapis lazuli, uma pedra semipreciosa que é uma das poucas fontes de renda no país além do ópio. Para transportar a pedra sem serem roubados por milícias, eles enrolam as pedras e enfiam nas partes dos burros que fazem o transporte. Na mão de um cineasta comum, a cena seria grotesca. Jan de Pue a filma sem o mínimo resquício de vulgaridade.
Mas o destaque é mesmo a gangue dos meninos, uma mistura de “Garotos Perdidos” e “Cidade de Deus” em território afegão. Gholam, o Zé Pequeno deles, é que negocia tudo. Em uma das cenas, o vemos fazendo um acordo com um senhor que cruza seu território com uma caravana. Em uma terra marcada pelo conflito, tudo é medido em cápsulas de munição. O velho oferece o peso de dez cápsulas em ópio para contar com a proteção do grupo. O preço correto seria 15, mas Gholam aceita, por confiar na honestidade do interlocutor. Mais adiante, uma bolsa se desprende de um dos burros da caravana e revela vários quilos de pasta de ópio. Gholam e seus garotos surram o velho e tomam sua carga.
Em outra parte, Gholam tenta conseguir ópio suficiente para oferecer ao pai de sua noiva, como dote. Se a parte de oferecer pasta de ópio já lhe parece excessivamente repulsiva, espere: a noiva aparenta ter no máximo cinco anos de idade. Segundo de Pue, esta é uma das partes ficcionais do filme, nas quais os garotos seguiram um roteiro. Não deixa de ser, entretanto, um retrato do que acontece de verdade no restante do país.
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