Shrek: sátira aos contos de fadas| Foto: Reprodução/

Quando se fala em uma comemoração de 15 anos, o que vêm à cabeça são imagens de uma festa tradicional, com valsa, roupas de gala, um buffet fino e convidados perfumados. Um ogro — que arrota após comer cebolas cruas e faz piadas de duplo sentido — odiaria tudo isso.

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Em 2001, estreava nos cinemas “Shrek”. O enredo poderia ter saído diretamente do mundo encantado de Disney: um plebeu solitário é incumbido do resgate de uma bela princesa, noiva do rei de seu povoado. O herói e a princesa acabam se apaixonando, enfrentam o preconceito, o monarca – que se revela um vilão cruel a ponto de torturar um inocente biscoito vivo de gengibre – e vivem felizes para sempre. Completa o trio principal um simpático burro que fala.

Shrek e Fiona, antes da princesa se transformar em ogra 
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Seria uma história qualquer de contos de fada, se o herói não fosse um ogro — verde, dois metros de altura, gordo — mal-humorado, que o que mais quer é ficar sozinho em seu pântano escuro. Se a princesa, Fiona, ao final também se revelasse uma ogra. E se o Burro Falante não fosse um dos personagens mais irritantes — com uma ponta de fofura, é verdade — da história do cinema.

Com um enredo politicamente incorreto, com piadas de duplo sentido e referências à cultura pop, “Shrek” trouxe um frescor para as histórias de animação. De acordo com o cineasta e animador Paulo Munhoz, da produtora Tecnokena, o filme agradou a audiência justamente por ter fugido a um padrão. Para ele, “o carregamento irônico da narrativa foi inovador”.

Segundo o diretor criativo do estúdio de animação 2DLab, Andrés Lieban, a forma como a história do ogro é contada – numa narrativa sem preconceitos, irreverente e crítica – foi uma das chaves para cativar os públicos infantil e adulto. “Há uma ousadia e informalidade vanguardistas, com piadas em camadas para toda a família”, opina. Segundo Lieban, quando o filme saiu, todo mundo se perguntou “como é que ninguém nunca fez isso antes?”.

Munhoz também destaca que o longa foi o primeiro grande sucesso comercial da DreamWorks, numa área dominada pela Pixar à época, que já havia lançado “Toy Story” (1995), “Vida de Inseto” (1998) e “Toy Story 2” (1999).

Com custo de 60 milhões de dólares, “Shrek” arrecadou pelo mundo sete vezes esse valor: foram 424 milhões – 268 deles só nos Estados Unidos.

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Herói feio

Outra questão apontada por Paulo Munhoz é o fato de “Shrek” ter quebrado a escrita do protagonista bonito, com um herói considerado feio. “Embora na animação sempre tenha havido mais liberdade nesse sentido”, ressalta o cineasta.

A cartunista curitibana Pryscila Vieira, fã do ogro, diz que esse foi justamente o ponto que a fez se apaixonar pelo filme. “Nesse mundo intolerante, o respeito pelo o que é diferente raramente brota espontaneamente do coração. ‘Shrek’ nos faz compreender que o belo reside na diversidade”, afirma.

Na opinião de Andrés Lieban, o enredo do filme e seus personagens romperam barreiras criativas, “mostrando que é possível levar a criatividade a horizontes ‘tão, tão distantes’”, diz, brincando com o nome do reino governado pelos pais da princesa Fiona, Tão, tão Distante.

Trilha sonora e referências pop

Confira dez curiosidades sobre Shrek

Filme é baseado em livro escrito em 1990

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Além de toda a paródia aos contos de fadas tradicionais que “Shrek” faz, o filme traz referências a produtos localizados em um ponto mais recente da história da cultura pop, como a ficção científica “Matrix” (1999), na cena em que Fiona luta com o bando de Robin Hood, e o programa televisivo de namoro “The Dating Game” (1965-1986), quando Lord Farquaad precisa escolher que princesa será sua noiva – Fiona, Cinderela ou Branca de Neve.

Como trilha sonora, nada de musicais ou canções escritas especialmente para o filme. “Shrek” lançou mão de músicas bastante populares, de artistas como Smash Mouth, Joan Jett e a banda de rock alternativo Eels.

Os dubladores também foram escolhidos a dedo. No original em inglês, o trio principal tem vozes de Mike Myers (Shrek) – conhecido por “Quanto Mais Idiota Melhor” (1992) e pela trilogia, também de sátira, “Austin Powers” –, Cameron Diaz (Fiona) e Eddie Murphy (Burro Falante). No Brasil, a dublagem do protagonista ficou a cargo do “casseta” Bussunda, que faleceu em 2006.

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