Efraim Diveroli, o desajeitado e socialmente inepto celerado que é o centro de “Cães de Guerra”, se cerca de parafernália do filme “Scarface”. Uma imagem de Tony Montana e seu “amiguinho” está pendurada na parede do escritório de Efraim em Miami, uma prestadora de serviços de baixo custo no ramo militar chamada AEY; quando Efraim dá a seu parceiro e melhor amigo, David Packouz (Miles Teller), um presente sentimental, é uma granada banhada em ouro, inscrita com uma citação do filme: O Mundo é Seu.
O pôster de “Cães de Guerra” lembra inclusive aquele de “Scarface”, o que oferece a primeira pista de por que o novo filme não funciona. O co-roteirista e diretor Todd Phillips – mais conhecido pelas comédias “Se Bebber Não Case” – não parece estar seguro se está celebrando a ocupação duvidosa de Efraim e David ou censurando-a.
Para um filme sobre um mundo gonzo e vertiginoso de tráfico de armas, de passar a perna no Pentágono e de fumar massivos cachimbos de maconha enquanto se vive luxuosamente em South Beach, “Cães de Guerra” tem uma curiosa falta de energia e pegada. Baseado em um artigo da Rolling Stone sobre a carreira lucrativa de comerciantes de armas no mercado cinza dos Diveroli e Packouz da vida real, “Cães de Guerra” se mantém à distância dos personagens, receoso de nos envolver nos prazeres e prosperidade de sua ascensão, e por isso fazendo sua queda parecer distante, insignificante e indiferente.
Com um roteiro atropelado e com um ritmo irregular, deve-se admitir que “Cães de Guerra” contém mais do que alguns momentos infecciosamente engraçados – usualmente cortesias de Jonah Hill, que interpreta Efraim com uma imensa cintura, cabelo lambido para trás e uma risada nervosa e aguda – e uma trilha sonora irresistivelmente contagiante, que inclui o que pode ser o uso mais crasso de “Fortunate Son” já cometido em um filme.
(É o Packouz da vida real quem canta uma versão acústica de “Don’t Fear the Reaper” em um asilo em uma cena no começo do filme.)
Uma cena memorável, dos protagonistas chapados tentando convencer alguns oficiais responsáveis por contratos do Pentágono em um escritório em Illinois, é encenada para máxima absurdez no estilo irmãos Coen.
Mas para cada acerto há o mesmo número de erros, seja na forma de um ritmo preguiçoso ou a narração sem lustro e monótona de Teller, na qual ele descreve tudo em termos de “X, mas Y”. Uma feira de negócios em Las Vegas à qual ambos atendem para fazer contatos de alto poder aquisitivo é “Comic-Con, mas com granadas”. Um site do governo para potenciais contratos de fornecimento de armas é “eBay, mas para guerra”.
Então, ok: “Cães de Guerra” é “Os Bons Companheiros”, mas sem nada da pulsação, do detalhe antropológico ou da sedutora velocidade desse filme: não “Goodfellas”, mas “Dude-fellas”.
Nominalmente a história de como Packouz se reuniu com seu melhor amigo do ginásio para fazer milhões fraudando o sistema de fornecimento de equipamento militar durante os anos Bush-Cheney (Haliburton tem seu papel), “Cães de Guerra” frequentemente parece pouco mais do que dois caras curtindo a “broderagem” em locais exóticos, repetindo o clichê de conflitos da vida real servirem como pano de fundo para americanos bancarem os ousados e, finalmente, se autorrealizarem. (Para exemplos de cartilha do formato, veja os filmes recentes “Rock em Cabul” e “Uma Repórter em Apuros”.)
O passatempo sórdido de Efraim e David eventualmente os levará a Fallujah e aos mais abjetos recintos da Albânia, onde confusões se seguem com a mesma inevitabilidade da volta por cima dos meninos.
Todos aqueles acenos a DePalma e os quadros congelados no estilo Scorcese deveriam telegrafar em alto e bom som para onde esta história está indo: o acerto de contas, quando chega, deixa a audiência sentindo-se esvaziada e deprimida, e muito mais cínica do que quando entrou. Isso não é necessariamente inapropriado, mas o pessimismo parece não merecido em um filme que nunca decide firmemente com quem está sua simpatia.
“Para o registro, AEY não representa nada”, Efraim diz a um empregado em certo ponto. O mesmo pode ser dito a respeito de “Cães de Guerra”.
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