Quando esteve em São Paulo, em dezembro, para participar da Comic.com, o diretor Jordan Vogt-Roberts enfatizou que Kong - A Ilha da Caveira não é um remake de King Kong. “Criei a minha (própria) mitologia para ele (Kong)”, resumiu. Na ficção de Roberts que estreia em grande circuito nesta quinta, 9, a ação se passa em 1973, no finalzinho da Guerra do Vietnã. Isso faz com que a mitologia do diretor passe obrigatoriamente pelo Apocalypse Now de Francis Ford Coppola (e os helicópteros celebrizados na cena emblemática do filme, ao som da Cavalgada das Valquírias).
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Roberts pode jurar que não se trata de uma refilmagem, mas ele não deixa de conceder aquilo que o espectador que já tenha visto as muitas versões anteriores - as de Merian C. Cooper e Ernest Shoedsack (1933), John Guillermin (1976) e Peter Jackson (2005) - não deixa de esperar. O toque da garota (Brie Larson, vencedora do Oscar do ano passado por “O Quarto de Jack”, agora fotógrafa de guerra) emociona/humaniza o gorila gigante e, sim, ela cabe direitinho na mão do rei Kong.
Na trama do novo Kong, John Goodman consegue cobertura militar para investigar a misteriosa ilha da Caveira, protegida por brumas eternas e descargas elétricas - como o Triângulo das Bermudas. Passada a barreira natural, é como se o grupo entrasse em Pellucidar - a parte oca da Terra, sob a superfície, tal como Edgar Rice Burroughs teorizou numa bela aventura de Tarzan (e, antes dele, Julio Verne). O homem-macaco encontrava monstros antediluvianos. O mix de cientistas e militares encontra agora Kong, que protege aquele santuário natural de predadores como os lagartos gigantescos que destruíram sua família - o rei macaco é o último de sua espécie.
Há um lado Indiana Jones nessa história, com Tom Hiddleston na pele do aventureiro. Não é o melhor do filme. Jordan Vogt-Roberts imaginou um confronto radical - entre Kong e o chefe militar da expedição, Samuel L. Jackson. Ambos são filmados exatamente do mesmo jeito, mas, enquanto Kong é do ‘bem’, Jackson vai enlouquecendo aos olhos do público e passa a representar o establishment bélico no que tem de mais sinistro (e perigoso), o ‘mal’. Além de Apocalypse Now, o filme possui outras referências cinematográficas - e o confronto inicial entre os pilotos dos EUA e do Japão vem de Inferno no Pacífico, de John Boorman, de 1968. O mais interessante é que esse filme grande tem um único momento de grande filme, sem nenhum efeito, e é a movimentação dos personagens e da câmera, no final, no avião improvisado em barco, quando tudo já se resolveu. Tudo? Espere até o fim dos créditos pela cena adicional. Kong é primeiro de uma trilogia. Vêm mais monstros por aí.
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