O que é o amor? Para o cineasta franco-argentino Gaspar Noé, é uma força instintiva e animalesca que se confunde com o sexo quase sempre. Em “Irreversível” (2002), ele fez pessoas vomitarem em Cannes ao mostrar sem nenhum pudor o estupro de Monica Belucci – por meio da violência, o sexo impossível (sem correspondência amorosa) arranja um caminho. Em “Viagem Alucinante” (2011), o coito foi registrado de um ponto de vista “científico”, digamos. Era um sexo didático e orgânico, apesar da viagem lisérgica do filme. Em “Love”, em cartaz nos cinemas, o sexo é como um vício: depende-se dele para se gostar de alguém, trata-se dele para superar preconceitos, busca-se ele para sentir-se vivo.
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A história é a de Murphy (Karl Glusman), norte-americano que vive em Paris. Com Noé não há rodeios: a primeira cena é uma masturbação dupla entre ele e Electra (Aomi Muyock), sua ex-namorada. O filme é construído por flashbacks, então Murphy agora está frustrado e odeia silenciosamente sua atual mulher (Klara Kristin), vizinha do antigo casal. Com ela, teve “acidentalmente” um filho – para Noé, às vezes a vida é simplesmente um acaso que depende do sexo.
Murphy recebe um telefonema da mãe de Electra. A notícia é que a garota está desaparecida há meses. Obcecado e saudosista, o rapaz relembra das aventuras sexuais com a ex-namorada. É neste espaço, entre a extravagância e a beleza, que “Love” acontece por duas horas e 15 minutos, explícito e em 3-D.
Espécie de alter-ego de Gaspar Noé (Murphy é diretor de cinema e seu filme favorito é “2001”), o rapaz revive os momentos em que o sexo foi decisivo para acontecimentos importantes: uma exposição de Electra (ela teve de transar com um bambambã das artes plásticas), uma prova de amor (a relação com um travesti, a pedido da namorada), a transcendência (ambos vão a um ritual de ayahuasca), e a tentativa da sublimação do ciúme – quando o casal se aventura numa casa de suingue. O problema para ele (o filme começa com a citação à Lei de Murphy) é que ela sempre parece se divertir mais.
Há momentos hardcore, mas “Love” é muito bonito. Tem locações em Paris e trilha sonora eficiente, Bach e Satie inclusive. As cenas finais são memoráveis, mas não foram vistas por todos que compareceram à sessão de pré-estreia: duas pessoas deixaram a sala porque o sexo assim, fundamental com disfarce de gratuito, ainda incomoda.
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