Sabe aquele vizinho que você vê todos os dias, até cumprimenta de vez em quando, mas não conhece quase nada da vida dele? Até o início dos anos 2000, era assim a relação entre os brasileiros e o cinema argentino. Graças à abertura do mercado local para a produção vizinha um grande volume de filmes de qualidade chega às telas todos os anos. E se nomes como Ricardo Darín e Pablo Trapero já são familiares, ainda há muitos outros a serem descobertos por aqui.
Matías Piñeiro é um deles, e quem está em Curitiba tem a oportunidade de conhecer sua obra nos próximos dias. O cineasta de 35 anos foi o escolhido para a mostra Foco, do 5º Olhar de Cinema, que tem o objetivo de apresentar novos autores, cuja obra está fora do circuito comercial. O argentino esteve na capital paranaense, onde participou de debates e acompanha a exibição de seus cinco filmes: “A Princesa da França”, “O Homem Roubado”, “Rosalinda”, “Todos Mentem” e “Viola”.
Em entrevista à Gazeta do Povo antes de viajar ao Brasil, Piñeiro se disse muito feliz com a oportunidade de apresentar seu trabalho a um novo público. “[Participar da mostra] é colocar os filmes em circulação, dar-lhes a oportunidade de voltar ao presente e serem novos para aqueles que não tiveram chance de saber que existiam”, afirma.
Nascido em Buenos Aires, Piñeiro estudou cinema no Chile e em Nova York, onde vive parte do tempo. A carreira de diretor começou em 2006 no filme coletivo “A Propósito de Buenos Aires”, que trazia histórias cotidianas passadas na cidade. Seu primeiro filme solo, “O Homem Roubado”, veio no ano seguinte.
Os três últimos filmes do diretor, no entanto, guardam uma característica peculiar: são adaptações da obra do dramaturgo inglês William Shakespeare. De acordo com ele, fruto da relação com os atores com os quais trabalha. “Foi a leitura sistemática das obras de Shakespeare que me fez descobrir suas comédias e personagens femininos, que se apresentaram como variações das atrizes com as quais vinha trabalhando. Surgiu em mim a pergunta de como o cinema pode encontrar novas formas narrativas a partir de sua relação com o teatro”, explica.
Intercâmbio
Com a oportunidade de mostrar seu trabalho aos brasileiros, Matías Piñeiro avalia que o intercâmbio entre os dois países deveria ser ainda maior. “O cinema é uma boa maneira de conhecer melhor sobre outros países e aprender algo novo de si mesmo. Na Argentina estreiam poucos filmes brasileiros, às vezes nenhum, e isso é trágico. Ultimamente o melhor cinema do mundo tem saído de cidades como Recife”, avalia, sobre a cidade de Kléber Mendonça Filho, que no último Festival de Cannes apresentou “Aquarius”.
Já os desafios para quem vive de fazer cinema, segundo Piñeiro, não diferem muito no Brasil e na Argentina. “Meu desafio é tentar manter um grupo de pessoas estimuladas com o trabalho que proponho e cuja forma econômica de realização não seja um vínculo exploratório. Tento encontrar um equilíbrio na produção, através da qual um filme seja realizado e possibilite o início do seguinte”.
Programação
Em uma casa de campo, um grupo de amigos ensaia uma peça e passa a inventar histórias, levantando dúvidas sobre o que é mentira e o que é verdade.
Quarta (15), 16h30, no Espaço Itaú.
Curta-metragem que marca a primeira adaptação de Shakespeare do diretor: em um ensaio de “As You Like It”, atriz e personagem se confundem.
Segunda (13), 17h30, no Espaço Itaú.
Uma jovem atriz participa de uma encenação de Shakespeare e, a partir da experiência, amplia a exploração de seus sentimentos e desejos.
Segunda (13), 21h, e terça (14), 15h30, no Cineplex Batel.
Um ator retorna a Buenos Aires após a morte do pai, no México, e decide realizar uma série de peças radiofônicas adaptadas de Shakespeare.
Terça (14), 19h15, e quarta (15), 19h, no Espaço Itaú.
Uma jovem guia que trabalha em um museu ocupa seu tempo lendo a obra de Domingo Sarmiento, ex-presidente argentino, e faz um paralelo do texto com sua vida sentimental.
Não tem mais sessões.
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