Existem momentos bem interessantes em “Michelle e Obama”, o longa de Richard Tanne que conta a história do primeiro encontro entre o atual presidente dos EUA, em fim de mandato, e sua mulher. A trama remonta ao verão de 1989, quando um jovem e talentoso calouro de direito, de Harvard, conseguiu um emprego temporário num escritório de Chicago. Lá, ficou sob a responsabilidade de uma profissional que vinha lutando tenazmente para ser reconhecida, tarefa dificultada por ser, além de mulher, negra.
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O jovem Barack, ou Bar, chega com um histórico de ligações inter-raciais. Convida Michelle, chamada de Meesh, para um passeio. Ela hesita, com medo de que isso caracterize um ‘date’, encontro amoroso. As consequências poderão ser danosas para ela, na firma. Mas cede, e vira um ‘date’. O espectador que assiste hoje ao filme talvez nem saiba (ou lembre) que, nos anos 1960, Sidney Poitier estrelou “Um Amor para Ivy”, uma rara comédia romântica hollywoodiana com protagonistas negros. Na época, e em plena luta por direitos, a crítica não foi lisonjeira. Com alguma condescendência - e até preconceito -, Poitier e Abbey Lincoln, que atuava com ele, foram chamados de Rock Hudson e Doris Day ‘coloreds’.
Passaram-se quase 50 anos - Ivy é de 1968 -, e “Michelle e Obama” mostra que, para um casal de afrodescendentes de classe média, talvez seja mais fácil chegar à Casa Branca que a Hollywood. Oh, sim, temos heróis negros, mas casais e seus pequenos problemas nem tanto. O filme é sobre a aproximação da dupla, que descobre suas afinidades. Músicas de Stevie Wonder, filmes de um certo Spike Lee.
O estagiário é bom de oratória, e de persuasão. Apoia o criticado ex-prefeito negro de Chicago, Harold Washington. Seu mantra, para ganhar Michelle, é “eles dizem não, mas nós dizemos que vamos continuar em ação”. O tema embutido em “Michelle e Obama” é o racismo. Tem algo de “Mister Brau”, da Globo, como de algum filme da série “Antes”, de Richard Linklater. E, talvez, nesse justificar-se do jovem Obama, haja um tanto de autocrítica e até de esperança. O importante é seguir. O próximo presidente negro será, quem sabe, melhor.
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