O ministro da Cultura, Roberto Freire, avisou que não irá rever a indicação do jornalista Sérgio Sá Leitão para cargo na Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Cinema (Ancine). Ele reagiu ao encaminhamento de uma nota de repúdio assinada por entidades como a Associação Brasileira de Documentaristas do Rio de Janeiro e o Movimento Reage, Artista! e enviada ao Senado, pedindo a rejeição da indicação.
Segundo Freire, a palavra final será dos senadores, que irão sabatinar o ex-presidente da RioFilme e ex-secretário municipal de Cultura do Rio. As entidades ligadas ao audiovisual defendem que o jornalista não tem preparo técnico ou um legado à altura do cargo.
O ministro afirmou que a indicação veio do presidente Michel Temer, e os dois, de comum acordo, avalizam a ida de Sá Leitão para a vaga que será aberta na diretoria da Ancine. E criticou o fato de as entidades não terem se manifestado contra o não funcionamento do Conselho Superior de Cinema, nos últimos anos.
“Não vou discutir nesse nível. Nós não tivemos pronunciamento desses cineastas ligados ao audiovisual sobre a total ausência deles no Conselho Superior de Cinema, que não funcionava e se converteu em um órgão homologatório dos interesses da Ancine. Não vi nenhuma crítica em relação a isso. Estamos mudando, e é isso que não querem. Eu não vou mudar a indicação, e quem vai decidir é o Senado”, reagiu Roberto Freire.
Ele explicou que o conselho, que cuida da deliberação das políticas de audiovisual, foi recomposto de forma “pluralista”, com a presença de cineastas, e passou a deliberar.
“Ficaram caladinhos quando o Conselho Superior de Cinema não deliberava. Agora, com a composição pluralista, retomou o debate. Reclamam da mudança, eu lamento”
“Repito: ficaram caladinhos quando o Conselho Superior de Cinema não deliberava. Agora, com a composição pluralista, retomou o debate. Reclamam da mudança, eu lamento”, disse Freire.
A petição assinada por profissionais do mercado audiovisual surgiu após a divulgação de uma troca de e-mails de 2014, na qual Sá Leitão, então secretário municipal de Cultura e de diretor-presidente da RioFilme, sugeria um movimento para “enquadrar”, “isolar” e “tirar a base de apoio” de um grupo de cineastas independentes do Rio. Na época, Sá Leitão vinha sofrendo críticas de parcela de diretores e produtores cariocas. “O cinema brasileiro produziu seus black blocs”, escreveu ele.
A mensagem foi enviada em 7 de outubro de 2014 para cerca de 15 pessoas, muitas delas profissionais que regularmente buscam recursos em editais na época gerenciados pelo próprio Sá Leitão. A motivação foi um texto distribuído à imprensa com algumas das revindicações do Rio: Mais Cinema, Menos Cenário, um movimento lançado no Festival do Rio de 2014 para pedir mais transparência nos gastos e maior diversidade nos projetos contemplados nos editais de prefeitura e estado.
Leitão começou citando o que ele chamou de “denúncias vazias e argumentos tolos” e destacando uma “postura belicosa e vingativa”. A mensagem seguiu lembrando de uma reunião que teria havido com o grupo copiado no e-mail. “É preciso enquadrar essa turma. O setor precisa se manifestar em peso contra isso. (...) Temos de mobilizar os nosso ativos. Temos de isolar os radicais. Tirar sua base de apoio”, escreveu Sá Leitão.
Sá Leitão explicou sua mensagem de 2014:
“O e-mail em questão foi escrito e enviado em caráter privado, por meio de meu endereço pessoal, e não dos endereços oficiais da SMC e da RioFilme, no contexto de um ataque político organizado à RioFilme, à Prefeitura do Rio e ao setor audiovisual da cidade. No texto, faço referência a uma mensagem (...) com uma série de calúnias, injúrias e falsidades não só a respeito da RioFilme, mas também de outras instituições, como a Ancine e o MinC, e de profissionais consagrados do setor audiovisual, como o diretor e produtor Cacá Diegues.
(...) Meu intuito com o e-mail foi apenas o de articular uma defesa política da RioFilme, da Prefeitura e do setor audiovisual carioca. (...) O texto traz apenas sugestões de ações que os destinatários poderiam ou não realizar. Ele não se refere a ações da RioFilme ou da SMC-Rio.
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