Fim do rolo : Cid Linhares morreu nesta terça-feira (2) aos 64 anos.| Foto: Arquivo Gazeta do Povo/

Para o projecionista de cinema Cid Linhares, o segredo para bem exercer seu ofício era, em primeiro lugar, gostar de cinema. Depois, segundo ele, um bom projecionista precisava ter a consciência de que “acabaram os sábados, domingos, feriados, dias santos e festas”.

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“Tem um aniversário marcado você não pode ir. Um casamento você não pode ir. Um operador de cinema não pode falhar em seu compromisso que é exibir o filme no horário certo”, disse Linhares para uma plateia de jovens operadores há cinco anos na Cinemateca de Curitiba.

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Cid Linhares foi enterrado nesta quarta-feira (3). após dedicar 50 dos seus 64 anos de vida a profissão de projecionista de cinema. Em sua carreira, atuou em quase todos os cinemas de rua da cidade. Era servidor da Fundação Cultural de Curitiba e projecionista da Cinemateca desde o dia 5 de outubro de 1987.

Numa entrevista à Gazeta do Povo publicada em 2012, Linhares se orgulhava de nunca ter danificado um só rolo de filme. “Os filmes eram muito fracos e pegavam fogo”. Segundo ele, o ritual da projeção era simples. “Cada filme vem em cerca de cinco rolos de película fotográfica. É o operador que monta e revisa todas as produções antes de colocar no projetor e passar para o público”.

Por suas mãos passaram as projeções de clássicos do cinema, como Ben-Hur, e sucessos de bilheteria, como Ghost. O primeiro é um de seus filmes preferidos, junto com outros épicos, como Os Dez Mandamentos e O Rei dos Reis. Já o blockbuster... “Foi um saco. Ghost ficou um ano e meio passando. Eu não aguentava mais.”

Na época, ele também lamentava a lei a recém promulgada lei antifumo que o privava de um dos companheiros de solidão da sala de projeções. “Quem trabalha aqui é um solitário. Os melhores amigos do projecionista eram o café e o cigarro”.

Como projecionista, Linhares rodou o Brasil e testemunhou a transformação cultural no hábito de frequentar salas de cinema. “A coisa mais gostosa do meu tempo de cinema era ver a pessoa ter reação, sentir o cheiro de cinema. Hoje não existe mais. Está se perdendo a essência”, diz.

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No vídeo abaixo, gravado em outubro de 2012, Cid Linhares fala sobre sua profissão e relata sua relação com o cinema.