A obra de grande Grande Otelo (1915 - 1993) é vasta: 125 títulos na TV e no cinema, além de uma carreira bem sucedida no teatro de revista, onde começou, e um trabalho significativo como compositor.
O produtor Breno Lira Gomes, 36, encarou o desafio de se debruçar sobre ela. Ele é um dos curadores, ao lado de João Monteiro, de uma mostra dedicada ao ator, que completaria cem anos em 2015. A programação começa nesta quinta-feira (8) no Caixa Belas Artes, em São Paulo, antes de partir para o Rio.
“O Grande Otelo não foi só um ator de cinema: era um multiartista, mesmo quando esse termo ainda não existia”, diz Gomes.
Ao todo, serão 23 filmes na edição paulistana e 27 no Rio -por uma questão de número de sessões disponíveis, de acordo com Gomes, a mostra carioca ainda recebe “O Negrinho do Pastoreio” (1973), “Rei do Baralho” (1973), “A Estrela Sobe” (1974) e “Jubiabá” (1987).
A intenção, segundo o curador, foi selecionar um pouco de cada época do ator. “Pegamos dois filmes da Cinédia, um da Atlântida, alguns da Herbert Richers, alguns do período das chanchadas, em que ele teve um grande apelo popular.”
Entre os títulos mais conhecidos, serão exibidos “Nem Tudo É Verdade” (1985), “Macunaíma” (1969) e “O Assalto ao Trem Pagador” (1962).
O tempo, conta Gomes, não foi muito bom com a filmografia de Grande Otelo.
“Muita coisa se perdeu, principalmente os filmes do início da carreira. Muita coisa não existe mais. Nós não conseguimos chegar a um um acordo para exibição de alguns filmes porque eles não estão disponíveis, também.”
Da Atlântida, os organizadores da Mostra conseguiram apenas “Matar ou Correr” (1954), o último de Otelo com Oscarito. Ficaram de fora “Também Somos Irmãos” (1949) e “Moleque Tião” (1943), primeiro filme da Atlântida encabeçado por ele.
“Não existem mais cópias [de ‘Tião’], nem digitalizadas. É um filme perdido, o que é uma pena. Se a gente parar para pensar, em 1943, um ator negro protagonizando um filme inspirado em sua vida, para aquela época foi um marco.”
Gomes critica o menosprezo de algumas pessoas ao trabalho de Otelo como ator, reflexo de seus papéis na chanchada.
“Um ator que se sustenta mais pelo lado cômico, como foi o caso dele, às vezes consegue aquilo que é mais difícil, que é fazer você rir. As pessoas esquecem que, acima de tudo, ele foi um grande ator. Em ‘Rio, Zona Norte’ (1957), exibido na Mostra, ele usa toda sua vertente dramática.”
Otelo começou a trabalhar no teatro ainda pequeno, tendo pedido à mãe que o deixasse ir embora com um grupo de teatro.
“Ele não queria ser mais um negro, mais um pobre. Queria ser o Grande Otelo. Ele mostrou que, se você quer perseguir um sonho e tem vontade de mudar, você faz. Você consegue”, declara Gomes.
Já consagrado no teatro e construindo um nome no cinema, ouviu do diretor norte-americano Orson Welles que era o melhor ator no Brasil.
O cineasta rodava um filme no país em 1942, financiado pelo governo dos EUA e com apoio de Getúlio Vargas.
“Ele veio aqui e conheceu o Grande Otelo e o Herivelto Martins, que o pegaram pela mão, disseram ‘você vai conhecer o Brasil’ e então mostraram um país rico culturalmente, que não passava pelos salões do Copacabana Palace ou pelos grandes palácios do Rio”, diz. “Precisou vir o Orson Welles lá de fora para a gente ver um Brasil que não queria ver.”
Entre 2012 e 2013, foi criada pelos filhos do ator -José, Mario Luiz e Carlos Sebastião Prata— a Fundação Grande Otelo, para reunir o acervo e preservar o legado do pai.
“A Fundação é uma iniciativa cultural e artística, para organizar e atender pedidos referentes ao acervo dele, que a família está doando”, explica Mario Prata, filho de Otelo.
Ele vem a São Paulo para um debate nesta quinta-feira com os curadores Breno Lira Gomes e João Monteiro, mediado pela jornalista Maria do Rosário no Belas Artes, com entrada franca.
No Rio, os curadores farão uma bate papo com os três filhos de Otelo.
Apesar da Mostra, Prata diz achar que a comemoração do centenário poderia ter sido mais ampla. “Meu pai merecia um pouco mais.”
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