A nostalgia embrulha o espectador como um cobertor felpudo ao assistir “O Bebê de Bridget Jones”, um filme irregular, porém esporadicamente hilário, que dá sequência ao imenso sucesso de 2001 que foi “O Diário de Bridget Jones”. Ele começa com a sua heroína e personagem epônima, mais uma vez interpretada por Renée Zellweger, que adota aqui o seu sotaque mais britânico possível, comemorando sozinha seu aniversário de 43 anos. Mas, em vez de cantarolar “All By Myself” – o hino não oficial da personagem –, ela dá adeus a tudo isso e põe para tocar “Jump Around”, do House of Pain.
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A cena funciona muito bem para determinar o ritmo ambivalente de “O Bebê de Bridget Jones”, que o tempo todo lança um olhar retrospectivo – em relação ao próprio filme original, à sua sequência que deu errado e às reminiscências em geral da geração X –, enquanto dá um passo incerto rumo ao futuro. No começo do filme, Bridget acabou de terminar com seu velho namorado, Mark Darcy (Colin Firth). Mas, vendo pelo lado bom, ela está no seu “peso ideal” e encontrou realização profissional em seu trabalho como produtora, apesar de cercada por um batalhão de novatos hipsters munidos de coques masculinos, “barbas irônicas” e noções de jornalismo que priorizam gatos sósias de Hitler em vez de notícias autênticas.
Remorso e pura alegria romântica
Quando uma colega leva Bridget, arrastada, até Glastonbury para uma escapada hedonista, ela vai parar na cama com um bilionário maravilhoso chamado Jack (Patrick Dempsey); uma semana ou duas depois, ela esbarra em Mark, que tem alguns arrependimentos por ter perdido Bridget, e, após uns drinks, comprova o tamanho desse remorso. Assim, quando o personagem que dá título ao filme é apresentado via um teste de gravidez que dá positivo, ela não tem muita certeza de quem é o pai, o que inspira, alternando entre o clichê e o tom cômico mais fanfarrão, várias cenas de revelação, enganos, devoção paterna e, por fim, de pura alegria romântica.
“O Bebê de Bridget Jones” é, de longe, melhor que o seu antecessor, o pavoroso e incoerente “Bridget Jones: No Limite da Razão” (2004). É um filme mais mordaz e mais centrado, agraciado também com algumas performances coadjuvantes genuinamente encantadoras, o que inclui as transformações camaleônicas de Sarah Solemani, como a âncora que num minuto está toda arrumadinha e, no outro, toda largada, além de contar com Emma Thompson, que faz uma obstetra severa e é responsável pelo roteiro, ao lado de Helen Fielding e Dan Mazer.
Arroto inconveniente
Quanto ao casal central da série, Zellweger e Firth são o de sempre: duas figuras charmosas, que atraem nossa simpatia ao mesmo tempo em que notamos seus defeitos. Firth ainda possui um apelo devastador, mais do que devia, aliás, como Mark, um homem careta com uma perpétua expressão de dor que lhe confere os ares de quem está o tempo todo prendendo um arroto inconveniente.
Mas, apesar dos pontos fortes, “O Bebê de Bridget Jones” muitas vezes parece forçar a barra para criar o conflito necessário que precisa ocorrer antes de chegarmos ao final previsível. Há um sub-enredo idiota que envolve as aspirações políticas da mãe de Bridget, e o personagem de Dempsey é de uma perfeição tão monótona como o “novo americano” de Bridget que ele parece ter sido dotado de dons extrassensoriais que lhe permitem aparecer literalmente do nada no terceiro ato, para completar o que, devo admitir, é uma piada visual hilária de comédia pastelão.
Parte do passado
Tal é a energia que anima “O Bebê de Bridget Jones”, dando um passo atrás para cada passo à frente: para cada fala engraçada, há uma piada velha sobre como os indianos têm nomes compridos; para cada progresso no aspecto musical, há um flashback nem um pouco descolado ou alguma piada que envolve Bridget não saber quem é Ed Sheeran quando ele aparece para fazer uma pontinha.
Numa época em que temas semelhantes estão sendo explorados e transformados em ouro em séries de comédia brilhantes como a “Catastrophe”, da Amazon, as reminiscências e tom melancólico de “O Bebê de Bridget Jones” trazem consigo um ar estranhamente derrotista, como se os esforços para tentar manter o passo em relação à sua própria época fossem demais para se dar ao trabalho – melhor se contentar só em rir dos excessos do século 21 e fugir para o conforto de uma bolha de esquecimento. Mesmo considerando seu final otimista, que é deixado em aberto, “O Bebê de Bridget Jones” parece um adeus carinhoso, ainda que um pouco atrasado, a personagens cuja época inevitavelmente já faz parte do passado.
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