Em Cannes, em maio, a Disney aproveitou o quadro do maior festival do mundo para lançar “O Bom Gigante Amigo”. O longa que Steven Spielberg adaptou do livro de Roald Dahl estreou nesta quinta (28) nos cinemas brasileiros. Na Croisette, a acolhida foi triunfal e o filme, longamente aplaudido na sessão oficial, mas fora do quadro do festival a recepção tem sido bem mais morna. Não é, nem de longe, um grande Spielberg, e muito menos está à altura da trilogia informal que ele dedicou ao 11 de Setembro, com os filmes “O Terminal”, “Guerra dos Mundos” e “Munique”. Em Cannes, Spielberg admitiu que, volta e meia, gosta de voltar às suas fantasias. Elas o nutrem e satisfazem sua necessidade de continuar acreditando no cinema como uma atividade lúdica.
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“Essa história faz parte do meu imaginário há muito tempo. Era o livro que lia para meus filhos, e eles adoravam. Para mim, trata-se de uma história de amor. Não fiz muitos filmes assim na minha carreira.” E Spielberg também fez uma afirmação muito interessante. Disse que trabalhou na Disney com toda liberdade. “Não me impus nenhum limite, de imaginação ou o quê. Quando você faz filmes como ‘Lincoln’ ou ‘Ponte dos Espiões’, a própria realidade o tolhe. Não há muito espaço para a imaginação. Aqui, a pegada é outra. A garota se liga ao gigante amigo e ele a leva numa jornada de autoconhecimento e superação. É um tema tradicional, mas nem por isso menos relevante. Impulsionou-me a ser livre. Na verdade, tenho a impressão de que nunca me senti mais livre desde o meu começo, nos anos 1970.”
Do elenco, e na pele do gigante, participa Mark Rylance, que ganhou o Oscar de coadjuvante deste ano, por “Ponte dos Espiões”. Rylance viajou nas lembranças durante um encontro com jornalistas. “Steven [Spielberg] tem sido muito generoso comigo. É nosso segundo filme e ele anuncia que tem pelo menos mais uma meia dúzia de projetos que gostaria de fazer comigo. Há quase 30 anos, na época de Império do Sol, ele me chamou para um papel que, na época, teria dado extraordinário impulso à minha carreira. Eu era jovem, queria fazer teatro, que me parecia mais sério. Todo mundo achou que eu estava louco, mas não me arrependo. Integrei-me a um coletivo, fizemos coisas maravilhosas e justamente na primeira peça conheci aquela que seria minha mulher, a mãe de meus filhos. Não trocaria isso por nada. E, depois, quando me reencontrei com Spielberg, ele me disse que cada coisa tem seu tempo e o importante é que nos encontramos de forma mais madura.”
Experiência bizarra
Como é fazer um gigante? “É uma experiência bizarra, porque a sua real dimensão na imagem será definida na pós-produção. Mas você tem de ter consciência, o tempo todo, de que é muito maior do que a garota (interpretada por Ruby Barnhill) e passar isso com naturalidade. É uma questão de nivelar o olhar. Acredite, é mais difícil do que parece.” Rylance conhecia o livro de Dahl? “Como não? É um clássico da literatura infantojuvenil de língua inglesa. Roald escreveu até James Bond, mas seus clássicos infantis são muito ricos pelo olhar compassivo que ele tem sobre a fragilidade da infância, o processo de maturação da personalidade.”
Em Cannes, também se encontraram com a imprensa duas atrizes de diferentes gerações, mas identicamente ótimas - a bela e jovem Rebecca Hall, que faz ‘Mary’, e Penelope Wilton, a ‘Rainha’. “Steven disse que há tempos queria trabalhar comigo. Me elogiou por meu papel em “Downton Abbey”. Me disse que eu saberia fazer a rainha no tom certo, imperial, mas humana. Quando você vai trabalhar com um diretor tão grande, um homem que, nos últimos 40 anos, tem exercido um efeito extraordinário sobre o público de todo o mundo, você até se sente intimidada. Mas Steven é tudo, menos ditatorial. Ele acredita e termina por convencer de que o cinema pode fazer a diferença e ajudar a mudar o mundo.”
Rebecca Hall é impressionantemente bela, ao vivo, muito mais que na tela. Tem brilho. “Steven moldou minha infância, e a de todo o mundo, com aqueles filmes - ‘Tubarão’, ‘Contatos Imediatos’, ‘E.T’. O impressionante é que o tempo passa, ele hoje é um senhor, mas continua conectado com a infância. Sabe chegar até ela, e despertar a criança na gente.” Filha de diretor - Peter Hall -, Rebecca conta que o cinema e o teatro sempre fizeram parte de sua vida. “E eu amo representar. Apareço mais para o fim do filme, assim pude desfrutar as demais interpretações, a técnica. Sou suspeita, mas fui arrebatada por Steven.”
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