“Pequenos Segredos”: trama se desenvolve por tempos justapostos, passado e presente| Foto: /Reprodução

Em uma escolha bastante audaciosa, o júri reunido pelo Ministério da Cultura elegeu como representante do Brasil no Oscar um dos piores filmes do cinema brasileiro dos últimos anos.

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“Pequeno Segredo” é um oceano de clichês e sentimentalismo. A narrativa é piegas, as imagens são piegas, a banda sonora é piegas, a direção é de uma platitude sem fim.

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Nem a talentosa Júlia Lemmertz salva-se do naufrágio, enroscada em uma encenação monocórdia e maçante.

Como já disseram um dia, um filme não se faz com boas intenções. É preciso talento. O diretor David Schurmann tem mais das primeiras que do segundo, infelizmente.

Em seu segundo longa, ele é incapaz de encontrar um enquadramento que não repita cartões-postais ou imagens de TV ou publicidade. Falta-lhe pulso para obter dos atores uma grande verdade por trás dos pequenos segredos.

O roteiro parte do livro de mesmo nome escrito por Heloísa Schurmann, mãe do diretor. É a história da adoção, pela família, de uma menina que sofre um mal incurável.

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Sendo assim, “Pequeno Segredo” é essencialmente um filme de família, sobre famílias: a dificuldade de constituí-las, a luta para mantê-las.

A trama se desenvolve por tempos justapostos, passado e presente. Não é coisa fácil de fazer no cinema. E as soluções encontradas pelo roteiro não são felizes: tudo segue aos solavancos, as situações parecem repetitivas, os personagens se perdem, alguns são apenas espectros, como os irmãos Schurmann.

Havia 16 filmes para a escolha do júri. Muitos deles abordam temas sociais fortes, como a ganância dos empresários, a luta pela sobrevivência, a repressão policial nas favelas, o racismo, o enfrentamento com a instituição psiquiátrica, o desespero individual e o esfacelamento das famílias em face da pobreza. Mostram um Brasil conflituoso, mas enérgico, determinado e vibrante.

O júri, porém, preferiu mostrar ao Oscar um país onde os sentimentos predominam sobre a política e os conflitos são mais de ordem psicológica que social. Sinal dos tempos.