O que melhor passou nas telas dos cinemas em 2016| Foto: The Washington Post/The Washington Post

Todo ano meus colegas críticos de cinema e eu lamentamos o estado atual do cinema – muitos filmes de histórias em quadrinhos! Sem substância o suficiente! Onde estão os musicais/as histórias de amor/os filmes de garotas de outrora? Estou entediado! – isso tudo para perceber que, quando se trata de compilar nossa lista de fim de ano dos 10 melhores, fomos (mais uma vez) mimados com a variedade de opções.

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Este ano tem sido particularmente gratificante, se não por outra razão, por sua pura diversidade – não apenas em termos de representatividade de gênero e etnias em frente e atrás das câmeras (o Oscar não será tão branco assim em 2017), mas em termos de categorias e plataformas, com cineastas revigorando gêneros clássicos com imaginação, brio e amor desenfreado por um meio que pareceu novo e vibrante, fosse na forma de espetáculo na grande tela ou de um disco visual em streaming.

Chega de limpar a garganta! Eis uma lista altamente pessoal dos melhores filmes deste ano, com não poucos dignos de menção.

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1. “Moonlight”.

A adaptação de Barry Jenkins da história original de Tarell Alvin McCraney a respeito do amadurecimento de um jovem nas ruas de Liberty City em Miami pulsou com vida, drama atento e profunda emoção. A abordagem visual elegante de Jenkins fornece um quadro indefectível para algumas das mais indeléveis performances do ano, incluindo a de Mahersala Ali no papel de um improvavelmente doce traficante de drogas e a de Andre Holland no papel de um altamente evoluído cozinheiro de restaurante.

2. “Manchester à Beira-Mar”.

Caso você não tenha chorado o suficiente durante “Moonlight”, o roteirista e diretor Kenneth Lonergan traz o que você precisa nesse drama belissimamente elaborado sobre um homem aprendendo a aceitar seu passado trágico. Escrito com a mistura de humor atento e melancolia característica de Lonergan, o filme é estrelado por Casey Affleck em uma performance de tirar o fôlego por sua sutileza e quietude.

3. “A Qualquer Custo”.

Um faroeste contemporâneo sobre uma dupla de ladrões de banco se esquivando de um xerife astuto nas planícies imponentes do Texas. Tudo de que o mundo precisa, certo? Mas, enquanto preparava um tuíte presunçoso invocando “Onde os Fracos Não Tem Vez”, vi o maldito filme e ele se mostrou sensacional: brilhantemente escrito por Taylor Sheridan, perfeitamente executado pelo diretor David Mackenzie e trazendo performances assombrosas de Jeff Bridges, Ben Foster e Chris Pine, esse conto de gato e rato alternadamente engraçado e sóbrio me entreteve e evocou realidades econômicas dos dias atuais com sensibilidade e inteligência.

4. “Um Fim de Semana Diferente”.

Esse pode ser o melhor filme que você não viu em 2016, apenas porque ele teve um período de exibição “se piscar vai perder” nos cinemas antes de ser disponibilizado no Netflix. Não importa, ainda há tempo para curtir esse comovente drama, simultaneamente triste e engraçado (você está detectando um padrão?), sobre um pai divorciado cheio de falhas passando um fim de semana crucial com seu filho, que está prestes a ser crismado. Escrito e dirigido por Bob Nelson, essa gema silenciosa tem o charme desalinhado e áspero do roteiro anterior de Nelson, “Nebraska”, tornado ainda mais adorável por um elenco que inclui Clive Owen, Maria Bello e Patton Oswalt. Nunca a irreverência mereceu tanta reverência.

5. “O.J.: Made in America”.

O documentário épico de Ezra Edelman sobre O.J. Simpson desafiou expectativas de que iria apenas rearranjar o que já sabíamos sobre o idolatrado atleta tornado notório suspeito de assassinato. Ao invés, Edelman criou um roteiro ampliado, ainda assim meticuloso, não apenas do homem, mas de Los Angeles, esportes universitário e profissional, celebridade, raça e cultura americana.

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6. “Cameraperson”.

A operadora de câmera Kirsten Johnson filmou algumas das mais conhecidas obras de não-ficção da última década e meia, de “Fahrenheit 9/11” a “Citizenfour”. Nesse ensaio cinematográfico profundamente pessoal, Johnson cria uma colagem de tomadas desses projetos, assim como material pessoal de sua família, para refletir sobre arte, trauma, ética documentária e o poder insuperável de se testemunhar a dor de outra pessoa.

Cameraperson Trailer from Janus Films on Vimeo.

7. “La La Land”.

Damien Chazelle (“Whiplash”) assume sozinho a missão de salvar o cinema com esse retorno aos musicais de canção e dança que começa com um número emocionantemente produzido ambientado no meio de um engarrafamento de Los Angeles. No papel de dois jovens em busca do sucesso no showbiz, Emma Stone e Ryan Gosling acompanham as trocas de tons de um filme que é indulgente com nossos mais românticos e açucarados centros de prazer enquanto presta atenção nos vícios também. Delicioso.

8. “Lemonade”.

Beyoncé se mostra uma estudiosa da história do cinema e uma sagaz curadora de arte contemporânea em um “disco visual” que mostrou as influências não apenas de Stanley Kubrick e Julie Dash, mas do artista de instalações Pipilotti Rist e o grande cineasta emergente Khalik Allah. Sensual, confrontante, e encharcado de despudoradas raiva e beleza, foi um exemplo da linguagem visual na sua forma mais fluente e expressiva.

9. “A 13ª Emenda”.

O documentário de Ava DuVernay sobre a constituição dos Estados Unidos, justiça criminal, racismo e história qualifica-se como obrigatório, tocando nas questões políticas e filosóficas que agitam nossa época. Na esteira de um filme de estreia abrangente e enraivecedor, DuVernay presenteia a audiência com o que pode ser a sequência mais revigorante e inspiradora do ano, simplesmente ao compartilhar alegria, perseverança e insistência implacável pela sobrevivência contra todas as chances.

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10. “Michelle e Obama”.

A ideia de um cineasta fazer sua estreia em roteiro e direção com um drama/comédia romântica especulativo sobre o primeiro encontro de Barack e Michelle Obama é no mínimo temerária. Mas Richard Tanne acertou em cheio com um filme que captura seus personagens e seu tempo e lugar na Chicago do final da década de 1980 com perspicácia e impressionante autenticidade. No papel do casal, Tika Sumpter e Parker Sawyers entregam performances que foram interpretações mais do que imitações; ao voltar ao começo, o filme dá um adeus apropriado ao casal que ocupou a Casa Branca pelos últimos oito anos.

Eis alguns filmes que poderiam facilmente ter acabado na minha lista de 10 melhores, não fosse eu restrito pela obstinação numérica: “Loving”, “A Chegada”, “The Fits”, “A Bigger Splash”, “Amor & Amizade”, “Sully – O Herói do Rio Hudson”, “Capitão Fantástico”, “Paterson”, “Decisão de Risco”, “Ave, César!”, “Últimos Dias no Deserto”, “I Am Not Your Negro”, “Tower”, “Weiner”, “The Eagle Huntress” e “Jackie”. Confira-os se ainda não o tiver feito.

Tradução: Pedro de Castro