O chef Adam Jones, num ponto do filme “Pegando Fogo”, dá uma colherada para alguém de sua equipe experimentar o prato novo em que está trabalhando e a pessoa fala que achou “bom”.
“Bom não significa nada”, diz o chef, um perfeccionista insano.
Na prática, “bom” é mais do que a imensa maioria jamais vai conseguir atingir em qualquer área da vida. Se você se identifica com o rigor de Jones, fique longe do filme que ele protagoniza.
“Pegando Fogo” pena para fazer jus à sinopse que carrega: “Adam Jones é um chef que arruinou a carreira com drogas e mau comportamento. Sóbrio e de volta a Londres, ele está determinado a se redimir comandando a cozinha de um restaurante que almeja conquistar três estrelas no guia ‘Michelin’”.
Para quem curte gastronomia e bastidores de restaurantes, soa como um bom filme. Ainda mais por ter a consultoria do chef Mario Batali (uma celebridade nos EUA) e contar com Bradley Cooper no papel principal – ele fez o “Sniper Americano” e deveria ter levado o Oscar de ator por isso.
Na prática, a história é outra.
Frustração
Uma parte importante de filmes gastronômicos tem a ver com as cenas de comida. Se você gosta do gênero, quer ver os cozinheiros trabalhando, quer tentar entender o que eles fazem, quer acompanhar a confecção dos pratos. No caso de “Pegando Fogo”, as cenas de comida são incompletas. Mal dá para ver o que eles estão fazendo e, de repente, os pratos surgem prontos. É frustrante.
“Michelin” é de fato a publicação mais respeitada do mundo. Com uma equipe que viaja o mundo avaliando restaurante de todo tipo, ele atribui estrelas para os estabelecimentos: uma, duas ou três. Na edição de 2015, apenas quatro restaurantes em todo o Reino Unido – onde se passa o filme – tiveram três estrelas.
O esquema de estrelas do “Michelin” é mítico. Um chef que entra para esse grupo num ano, se não se cuidar, pode sair dele no ano seguinte.
Só para deixar claro que o sonho de Adam Jones beira a ficção científica, embora ele seja “como os Rolling Stones” para o mundo gastronômico.
O chef controverso deseja montar uma equipe espetacular. “Quero que meus cozinheiros sejam como os sete samurais”, diz. Mas o que se vê não é nada nem sequer próximo dos guerreiros no clássico de Akira Kurosawa. Os personagens em “Pegando Fogo” são rasos como pires e só abrem a boca para dizer “yes, chef”.
Até o protagonista é meio difícil de engolir. Ele é bom? Ele é ruim? Não! Ele é o cara ruim de coração bom. O fim é tão previsível quanto costuma ser em filmes assim. O prazer deveria estar no percurso, mas ele é só “regular”. Neste caso, “bom” significaria tudo.
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