Cena de “Peanuts”: animação tridimensional não tem o encanto do traço de Schulz.| Foto: Divulgação

“Snoopy & Charlie Brown: Peanuts, o Filme”, uma das estreias desta semana nos cinemas, faz várias escolhas ousadas. É um desenho produzido em 2015 com imagens tridimensionais – existe a opção de ver em 2D, o que é muito melhor –, estrelado por personagens que habitam um mundo diferente, que não existe mais.

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As crianças, quando querem falar umas com as outras, usam telefones grandes, pretos e pesados, cheios de cabos e fios longos. Nada de celulares, tablets e computadores.

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Quando quer escrever uma história, Snoopy, o cãozinho de Charlie Brown, saca uma máquina de escrever. Espertamente, supondo que uma criança em 2016 não saiba muito bem o que é uma máquina de escrever, o roteiro faz Snoopy descobrir aos poucos como ela funciona...

As crianças escrevem cartas umas para as outras no período de férias. De papel! Com envelope e selo. Nada de e-mail.

Também não aparece nenhum videogame em cena. Quando quer jogar alguma coisa, a turminha criada por Charles Schulz (1922-2000) sai de casa e escolhe os esportes que fazem a cabeça dos Estados Unidos: hóquei, futebol americano e beisebol.

O desenho não faz nenhum alarde sobre o período em que se passa. E também não importa. É como se Charlie Brown, Linus, Lucy e os outros habitassem outra realidade.

O roteiro, que se recusa a ser didático e não perde tempo apresentando os personagens, não diz “este é o Schroeder, ele é pianista e ama música clássica”. Em vez disso, o despertador de Schroeder toca ao som de uma sinfonia e o personagem suspira: “Ah, Beethoven...”.

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O “Peanuts” do título faz referência ao nome da série de tiras de jornal criada por Schulz, que no Brasil foi traduzida como “Minduim”. No filme, aliás, a lógica das tiras influencia o roteiro. Existe uma história que costura o longa-metragem – Charlie Brown está apaixonado pela Garotinha Ruiva e não sabe o que fazer para se aproximar dela –, mas, no resto do tempo, os personagens vivem situações breves com começo, meio e fim, exatamente como numa tirinha de humor. Ou como num esquete.

Um exemplo aparece na abertura do desenho, quando Charlie Brown tenta vencer traumas e enfim empinar uma pipa.

Na prática, a história não importa tanto. Os personagens triunfam em “Peanuts”.

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Analógica

A reportagem viu “Peanuts” com um menino de 10 anos que conhece os desenhos antigos do Charlie Brown. E por isso ele não estranhou a realidade “analógica” da animação. “Mas, se eu não conhecesse o desenho, acho que eu iria estranhar a máquina de escrever e os telefones antigos”, diz o menino.

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Dublagem

As imagens em 3D não têm o encanto do traço de Schulz – os personagens parecem bonecos de plástico às vezes –, mas ao menos a dublagem brasileira respeitou referências clássicas, como o “Que Puxa!” que Charlie Brown costuma dizer e o “Meu” que a Marcie usa para falar com a Patty Pimentinha.

Trombone

As vozes dos adultos no desenho continuam sendo feitas por um trombone (ideia de Vince Guaraldi, o compositor da trilha sonora). Para o filme, chamaram Trombone Shorty, músico de jazz dos mais importantes hoje em seu instrumento, para dar vida à professora e a outros adultos.

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