Contos de fadas e histórias clássicas têm ganhado espaço em Hollywood nos últimos tempos – as versões recentes para a telona de “João e Maria”, “Alice no País das Maravilhas” e “Bela Adormecida” estão aí para comprovar. “Peter Pan”, que estreia nesta quinta-feira (8) nos cinemas, é o mais novo representante desta safra e, possivelmente, o que toma mais liberdades criativas em relação à história original. Para o bem e para mal, diga-se.
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A Warner Bros. se esforçou para fazer um filme de origem, que permite novos caminhos para personagens conhecidos e pode render uma franquia para o estúdio. A trama começa um tanto soturna, fruto da ambientação: Peter, ainda um garoto comum, mora em um orfanato em Londres. Estamos na Segunda Guerra Mundial. Maltratado pelas freiras do lugar, é sequestrado certo dia por piratas que chegam em navios voadores e os levam sem cerimônias para a famosa Terra do Nunca.
A frase acima deve ser interpretada de forma literal. Sim, o filme está repleto de navios que deslizam pelo ar e chegam, na sequência inicial, a combater aeronaves do exército britânico. Após a partida de Peter do escuro e frio “mundo real”, Peter Pan exige com veemência que o espectador suspenda sua descrença e embarque em um mundo fantasioso, colorido e teatral, que lembra (e muito) um desenho animado, povoado por personagens caricatos e batalhas coreografadas, em que ninguém parece se machucar ou correr risco real (tal como num cartoon).
“Peter Pan” é, pois, para os pequenos, mais preocupados em curtir a correria na tela do que exigir coerência do roteiro e boas atuações. Hugh Jackman está à vontade como o vilão Barba Negra, mas o protagonista Levi Miller, no papel de Peter, é pouco convincente como o garoto que se mostra o escolhido para salvar toda uma civilização – ao fim, o que resta são suas caras e bocas.
O curioso é que o filme até tenta trazer um tom mais autoral no início, mas desiste logo. A surpresa de ouvir os escravos de Barba Negra cantando em coro músicas dos Ramones e Nirvana se esvai nas sequências seguintes e dá lugar a cenas e diálogos que parecem saídos de um espetáculo circense pouco inspirado – o que talvez seja resultado da escolha duvidosa do diretor Joe Wright, que ganhou nome por adaptações literárias mais “sérias” e contidas, como “Anna Karenina” (2012), “Desejo e Reparação” (2007) e “Orgulho e Preconceito” (2005).
Por isso tudo, junto do refrigerante e do balde de pipoca, a companhia de uma criança é essencial para assistir “Peter Pan”. Apenas garanta que ela ainda se interesse por fadas, palhaços e purpurina.
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