Para os devotados fãs do anime “O Fantasma do Futuro” (“Ghost in the Shell”), adaptação de 1995 do mangá de Masamune Shirow, a resposta hollywoodiana, que no Brasil ganhou o nome duvidoso “A Vigilante do Amanhã”, não é uma completa decepção. Sob comando do diretor britânico Rupert Sanders (“Branca de Neve e o Caçador”), o longa, que resume toda a discussão sobre “embranquecimento” no cinema atual, é um irretocável espetáculo visual que consegue atualizar o clássico dos quadrinhos cyberpunk de maneira competente, sem pesar a mão na computação gráfica.
Scarlett Johansson, que tem se especializado no gênero (fez “Lucy”, do diretor Luc Besson e uma alienígena em “Sob a Pele”, de Jonathan Glazer), está no cerne deste debate. Major, sua personagem, foi reivindicada pela comunidade asiática em Hollywood, que enumerou nomes de atrizes orientais com star quality suficiente para desempenhar o papel, cultuado há quase 30 anos. A história influenciou as irmãs Wachowski na trilogia “Matrix” de maneira determinante – a começar pela tipografia dos créditos.
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Discussões sobre diversidade à parte, Scarlett não diz a que veio. A Major carece do costumeiro carisma de sua intérprete. E aqui cabe uma comparação com o anime. A protagonista é um ciborgue que atua em um futuro distópico onde os hackers são os grandes criminosos. Na animação, ela é uma líder repleta de conflitos, mas com uma sagacidade que o roteiro de Jamie Moss e William Wheeler deixaram de fora no longa-metragem.
Material a atriz teria de sobra. Propriedade das empresas Hanka, a Major é considerada a principal arma contra o terrorismo, personificado na figura do hacker Kuze (Michael Carmen Pitt), que tem perseguido a diretoria da gigante de tecnologia. No confronto com o antagonista, as memórias do passado ‘humano’ da heroína ressurgem, mas ainda não são suficientes para dar camadas mais interessantes à personagem, que soa mais completa apenas nas cenas de ação, coreografadas magistralmente.
Mas se faltou “alma” para Scarlett, a versão hollywoodiana compensou em algumas adaptações pontuais que aprofundaram os dilemas humanos, como a inclusão da personagem de Juliette Binoche, Dra Ouelet, cientista por trás da experiência que levou à criação de um ciborgue com cérebro e “espírito”, aspecto ‘mastigadinho’ no prólogo, que faz um bom contraponto como intérprete.
Um aspecto que a direção de Sanders conseguiu manter e ajudou em muito no filme foi a relação de camaradagem a toda prova da Major com o parceiro Batou (o ator dinamarquês Pilou Asbaek, que trabalhou com Scarlett em “Lucy”). Asbaek e Takeshi Kitano, ator/diretor veterano que interpreta o chefe Arakami, são “escadas” da melhor qualidade. Faltou, no entanto, mais cuidado com a protagonista.
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