K-2SO: robô armado de sarcasmo, que, assim como C-3PO, calcula e avisa quais as taxas percentuais de possibilidade de sucesso ou fracasso das missões| Foto: Jonathan Olley / Divulgação

“O Despertar da Força”, que saiu no ano passado, nos deu o androide mais fofo e mais rentável para vender brinquedos de todo o universo de Star Wars, com BB-8, mas é o novo “Rogue One: Uma História Star Wars” que nos oferece o androide que há tempos estamos procurando.

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K-2SO, um ex-androide de segurança do Império, dublado por Alan Tudyk (“Firefly”, “Moana: um Mar de Aventuras”) é uma figura imponente, de mais de dois metros de altura, com capacidades de combate e um jeitão brusco e sem rodeios que é acentuado pelos seus ares de autoridade e seu sotaque britânico. Munido de um senso de humor rápido e sem filtros, K-2SO rouba as cenas sem esforço, sendo dele a maioria das piadas nesse que é um filme muitas vezes trágico e que precisa imensamente dos seus momentos de alívio cômico.

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Como é típico nos filmes de Star Wars, são os personagens não humanos da Aliança Rebelde que fornecem a maior parte da comédia. Foi assim que George Lucas concebeu a dinâmica entre C-3PO e R2-D2 quando os criou (com referências também aos criados camponeses de “A Fortaleza Escondida”, de Kurosawa). Porém, R2-D2 tem uma aura calorosa e infantil, como se fosse um Bob Esponja espacial, enquanto C-3PO volta e meia entra em pânico com toda a neurose do Leão Covarde do Mágico de Oz, por isso o humor da dupla parece ter como base sua vulnerabilidade, não uma invencibilidade agressiva.

Robô armado de sarcasmo

K-2SO, em contraste, é um androide para a era das redes sociais. Libertado e reprogramado pelo guerreiro rebelde Cassian Andor (Diego Luna), ele é um robô armado de sarcasmo, que, assim como C-3PO, calcula e avisa quais as taxas percentuais de possibilidade de sucesso ou fracasso das missões – mas não é tão fácil como ele de ser acalmado ou contido.

Por exemplo, K-2SO se intromete no meio das discussões entre humanos para avisar: “Esta é uma má ideia”, momentaneamente demonstrando zero respeito pela autoridade alheia, apesar de sua lealdade a Cassian. Ele também é capaz de manter um tom hilariamente sério enquanto fala com a heroína Jyn Erso (Felicity Jones): “Jyn, eu irei contigo para te ajudar”. Então dá uma pausa para acertar um ritmo cômico perfeito, antes de concluir: “O Cassian me mandou ir”. Porém, quando Jyn atira e destrói um androide idêntico a ele, K-2SO também revela uma inflexão intrigada na voz, digna de C-3PO, quando diz: “Você sabia que não era eu?”

Graças a esses momentos de aparente independência mental e poder de fogo verbal, K-2SO (apelidado só de “K-2”, como a montanha do Himalaia, ou “Kaytoo”) também dá a impressão de fazer parte da nova onda de inteligência artificial – como se Ava em “Ex_Machina: Instinto Artificial” usasse frases de efeito cheias de atitude para negociar com os humanos. Ele seria leal demais para participar de alguma das revoltas dos robôs anfitriões de “Westworld”, mas teria várias oportunidades para fazer piadinhas sarcásticas enquanto observa o que sai da situação.

E é por isso que Kaytoo é o androide ideal para o que é um “filme de guerra” que fica cada vez mais pesado. Sempre que as forças aliadas estão invadindo alguma praia de Scarif, precisamos é de um personagem que tenha um senso de humor seco como um martíni inglês – e que desça igualmente forte.

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*Michael Cavna é escritor, artista e cartunista, criador da coluna “Comic Riffs” e resenhista de quadrinhos para a seção de livros do The Washington Post. Aprecia a sátira bem feita em quase todas as formas.

Tradução: Adriano Scandolara